"Vou me sentir mais segura", diz brasileira ao ser vacinada no Reino Unido
Priscilla Currie é paramédica e atua na área de Londres com maior número de infectados com covid-19
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Eram pouco mais de 7 da manhã do dia mais frio do inverno londrino até aqui quando a brasileira Priscilla Currie chegou ao hospital St. Mary, na região central da capital britânica. "Muito frio. Menos dois graus hoje". Ela já está acostumada ao clima do Reino Unido e ao ambiente hospitalar. Há 6 anos, trabalha como paramédica para o serviço de emergência do NHS, o serviço público de saúde do país.
A brasileira Priscilla Currie no hospital St. Mary, na região central da capital britânica/ Arquivo Pessoal
Mas a visita de hoje foi uma das mais importantes da carreira da carioca. Apesar de ter apenas 38 anos, ela entrou na cota dos trabalhadores da saúde e recebeu a primeira dose da vacina Pfizer/BionTech, que é administrada no país desde o dia 8 de dezembro. O Reino Unido foi o primeiro do mundo a aprovar o imunizante desenvolvido pelas empresas dos Estados Unidos e da Alemanha e a começar a aplicá-lo na população. Mais de 600 mil britânicos já receberam a primeira dose. Milhares já começaram a receber a segunda dose na última terça-feira.
Pouco antes da agulhada, enquanto preparava a seringa, a enfermeira soube da origem de Priscila. "Vocês estão passando por tempos difíceis no Brasil, né?". "Sim, estamos. E a política não ajuda muito". A picadinha durou 5 segundos. "Não dói nada!", disse a paramédica com um sorriso que nem a máscara disfarçou.
"Não dói nada!", disse a paramédica com um sorriso que nem a máscara disfarçou/ Arquivo Pessoal
Como de costume no Reino Unido e na maior parte do mundo, quem recebe a vacina não precisa assinar nenhum termo de responsabilidade. O governo brasileiro cogita essa possibilidade para as vacinas aplicadas no país que tenham registro definitivo na Anvisa. Ela apenas foi informada sobre possíveis efeitos colaterais, como febre, dor de cabeça, fadiga e dores musculares.
Linha de frente do serviço de emergência, a paramédica atua no leste de Londres, a área com maior número de infectados na capital britânica. Ela atende apenas aos casos mais graves, aqueles pra quem minutos podem fazer diferença e precisa chegar antes da ambulância. Em abril, quando falou pela primeira vez ao SBT News, ela vivia o momento mais tenso de sua carreira. A brasileira que deixou o Rio pra salvar vidas em Londres nunca tinha registrado tantos óbitos.
"Geralmente eu faço um, às vezes dois por semana. Era o normal. Agora, eu estou fazendo três, quatro por dia. É uma quantidade que não é normal". Boa parte dos pacientes tinha desenvolvido os sintomas mais severos da Covid-19 e não conseguiu sequer chegar ao hospital. A grande maioria tinha mais de 80 anos. "Toda vez que eu chegava e perguntava pra família ou para os cuidadores quando os sintomas começaram, me diziam: "foi ontem". Muitos morreram na minha frente". No auge da segunda onda no Reino Unido, ela testemunha novamente o efeito devastador do vírus nas últimas semanas.
"Tá pior que a primeira onda. Tá sendo muito difícil trabalhar. Mais difícil ainda é ver o negacionismo. Eu fico chateada, é muito difícil não levar isso pro pessoal. Quando você arrisca a sua vida pra salvar a vida das outras pessoas e essas mesmas não respeitam as normas, você se sente, poxa, eu sou uma idiota?". Mais de 21 mil pessoas com a Covid-19 estão hospitalizadas no Reino Unido, segundo o ministério da Saúde britânico. É um número superior aos 19 mil que lotaram os hospitais em abril.
Priscilla foi avisada que vai receber a segunda dose em 3 semanas. A paramédica não entrou no grupo para o qual o espaçamento deverá ser de 12 semanas. O governo britânico anunciou ontem que a partir da próxima semana vai aumentar o intervalo pra garantir certo grau de imunidade ao maior número possível de pessoas. É uma estratégia pra reduzir o número de internações e tirar a pressão do sistema hospitalar.
Para a paramédica, estar vacinada significa ter mais chance de manter pessoas vivas. "Eu vou me sentir mais segura atendendo a meus pacientes. E também não vou ficar doente. Muitos colegas acabam ficando doentes e não podendo trabalhar".
Na última passagem de ano, a brasileira se preparava para um plantão em que os doentes clássicos dão lugar a outro público. "Eu estava atendendo pessoas drogadas e bêbadas da noite anterior. No dia 1º de janeiro, a gente não vê tanta gente doente. A gente atende pessoas que festejaram o ano novo e esse ano infelizmente vai ser bem diferente. Não vai ter celebração de ano novo e estou atendendo cada vez mais gente com covid". A paramédica confessa que vai sentir falta dos bêbados, como já sente da rotina que a pandemia destruiu.
A brasileira Priscilla Currie no hospital St. Mary, na região central da capital britânica/ Arquivo Pessoal
Mas a visita de hoje foi uma das mais importantes da carreira da carioca. Apesar de ter apenas 38 anos, ela entrou na cota dos trabalhadores da saúde e recebeu a primeira dose da vacina Pfizer/BionTech, que é administrada no país desde o dia 8 de dezembro. O Reino Unido foi o primeiro do mundo a aprovar o imunizante desenvolvido pelas empresas dos Estados Unidos e da Alemanha e a começar a aplicá-lo na população. Mais de 600 mil britânicos já receberam a primeira dose. Milhares já começaram a receber a segunda dose na última terça-feira.
Pouco antes da agulhada, enquanto preparava a seringa, a enfermeira soube da origem de Priscila. "Vocês estão passando por tempos difíceis no Brasil, né?". "Sim, estamos. E a política não ajuda muito". A picadinha durou 5 segundos. "Não dói nada!", disse a paramédica com um sorriso que nem a máscara disfarçou.
"Não dói nada!", disse a paramédica com um sorriso que nem a máscara disfarçou/ Arquivo Pessoal
Como de costume no Reino Unido e na maior parte do mundo, quem recebe a vacina não precisa assinar nenhum termo de responsabilidade. O governo brasileiro cogita essa possibilidade para as vacinas aplicadas no país que tenham registro definitivo na Anvisa. Ela apenas foi informada sobre possíveis efeitos colaterais, como febre, dor de cabeça, fadiga e dores musculares.
Linha de frente do serviço de emergência, a paramédica atua no leste de Londres, a área com maior número de infectados na capital britânica. Ela atende apenas aos casos mais graves, aqueles pra quem minutos podem fazer diferença e precisa chegar antes da ambulância. Em abril, quando falou pela primeira vez ao SBT News, ela vivia o momento mais tenso de sua carreira. A brasileira que deixou o Rio pra salvar vidas em Londres nunca tinha registrado tantos óbitos.
"Geralmente eu faço um, às vezes dois por semana. Era o normal. Agora, eu estou fazendo três, quatro por dia. É uma quantidade que não é normal". Boa parte dos pacientes tinha desenvolvido os sintomas mais severos da Covid-19 e não conseguiu sequer chegar ao hospital. A grande maioria tinha mais de 80 anos. "Toda vez que eu chegava e perguntava pra família ou para os cuidadores quando os sintomas começaram, me diziam: "foi ontem". Muitos morreram na minha frente". No auge da segunda onda no Reino Unido, ela testemunha novamente o efeito devastador do vírus nas últimas semanas.
"Tá pior que a primeira onda. Tá sendo muito difícil trabalhar. Mais difícil ainda é ver o negacionismo. Eu fico chateada, é muito difícil não levar isso pro pessoal. Quando você arrisca a sua vida pra salvar a vida das outras pessoas e essas mesmas não respeitam as normas, você se sente, poxa, eu sou uma idiota?". Mais de 21 mil pessoas com a Covid-19 estão hospitalizadas no Reino Unido, segundo o ministério da Saúde britânico. É um número superior aos 19 mil que lotaram os hospitais em abril.
Priscilla foi avisada que vai receber a segunda dose em 3 semanas. A paramédica não entrou no grupo para o qual o espaçamento deverá ser de 12 semanas. O governo britânico anunciou ontem que a partir da próxima semana vai aumentar o intervalo pra garantir certo grau de imunidade ao maior número possível de pessoas. É uma estratégia pra reduzir o número de internações e tirar a pressão do sistema hospitalar.
Para a paramédica, estar vacinada significa ter mais chance de manter pessoas vivas. "Eu vou me sentir mais segura atendendo a meus pacientes. E também não vou ficar doente. Muitos colegas acabam ficando doentes e não podendo trabalhar".
Na última passagem de ano, a brasileira se preparava para um plantão em que os doentes clássicos dão lugar a outro público. "Eu estava atendendo pessoas drogadas e bêbadas da noite anterior. No dia 1º de janeiro, a gente não vê tanta gente doente. A gente atende pessoas que festejaram o ano novo e esse ano infelizmente vai ser bem diferente. Não vai ter celebração de ano novo e estou atendendo cada vez mais gente com covid". A paramédica confessa que vai sentir falta dos bêbados, como já sente da rotina que a pandemia destruiu.
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