Veja quem são os alvos e o papel de cada um na "Abin paralela" de Bolsonaro
PF investiga núcleo na agência, chefiado pelo ex-diretor e deputado Alexandre Ramagem, por espionar adversários
A Polícia Federal inicia nesta sexta-feira (26) o cruzamento de dados e a análise do material apreendido na Operação Vigilância Aproximada, deflagrada para levantar provas nas investigações de um núcleo dentro da Abin, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que teria atuado ilegalmente espionando adversários e levantando dados em proveito de aliados. O principal alvo é o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que é delegado da PF e era diretor da Agência Brasileira de Inteligência na época. Ele nega crimes.
Ramagem teria chefiado um núcleo de agentes da agência e policiais federais chamado de Abin paralela, que usava o software que monitora movimentação de aparelhos celulares, investigava ilegalmente adversários políticos, produzia relatórios para subsidiar o clã Bolsonaro, entre outros.
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Houve buscas no gabinete, no apartamento funcional em Brasília e na residência do deputado no Rio. Foram apreendidos celulares, computadores e arquivos digitais, entre outros.
"O grupo criminoso criou uma estrutura paralela na Abin e utilizou ferramentas e serviços daquela agência de inteligência do Estado para ações ilícitas, produzindo informações para uso político e midiático", informou a PF
O núcleo de confiança de Ramagem, colocado no cargo por Bolsonaro e com apoio dos filhos do ex-presidente, tinha como objetivo a "obtenção de proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações da Polícia Federal".
Entenda as investigações e os personagens alvos
A Operação Vigilância Aproximada faz parte das apurações iniciadas em 2023, depois da descoberta do núcleo paralelo montado dentro da Abin. Esse grupo criminoso usava um programa espião adquirido pela agência, o FirstMile, em 2018 – no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB). Em outubro, uma primeira operação, a Última Milha, foi deflagrada com base em dados levantados pela Controladoria Geral da União (CGU).
Com o aprofundamento das apurações, a PF solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a deflagração da segunda fase, que teve como alvos Ramagem, policiais federais e agentes de inteligência da Abin, envolvidos no suposto esquema
Núcleos
A PF aponta existência de cinco núcleos na suposta “organização criminosa”. “A atuação do Núcleo da Alta Gestão Abin”, seria decisiva e tinha Ramagem como cabeça. Esse grupo “detinha o poder de direcionamento das condutas dos demais, com pleno conhecimento do desvirtuamento do uso da ferramenta de inteligência First Mile e teria tentado dar uma aparência de legalidade na sua utilização, bem como impedir a apuração correicional sobre condutas ilícitas”.
Sete policiais federais que integraram o núcleo de confiança de Ramagem na Abin, ligados também aos filhos de Bolsonaro, foram afastados de suas funções públicas, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).
Dois nomes importantes são Marcelo Bormovet, agente da PF que comandava a Coordenadoria-Geral de Credenciamento de Segurança, Análise de Integridade Corporativa, fração do Centro de Inteligência Nacional da Abin. Ele "chefiava 25 servidores, em maioria oficiais de inteligência".
Carlos Magno, policial federal, cedido em outubro de 2020 para a Abin, que também era homem de confiança e atuava no gabinete de Ramagem até agosto 2022.
Por meio de nota, a Abin afirmou que "há 10 meses a atual gestão da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) vem colaborando com inquéritos da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal sobre eventuais irregularidades cometidas no período de uso de ferramenta de geolocalização, de 2019 a 2021". "A ABIN é a maior interessada na apuração rigorosa dos fatos e continuará colaborando com as investigações", continua o texto.
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