PF cita reunião e possível conluio da atual direção da Abin e alvos da operação
Atual diretor-geral teria proximidade a Ramagem, que foi alvo de operação da Polícia Federal
As apurações da Operação Última Milha da Polícia Federal, que deflagrou nesta quinta-feira (25) a segunda fase ostensiva, Operação Vigilância Aproximada, apontaram a existência de um possível conluio entre investigados e atual gestão da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), sob o comando de Luiz Fernando Corrêa.
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As investigações apuram a existência de uma Abin paralela, montada durante o governo Jair Bolsonaro (PL) para monitorar e produzir relatórios com uso de um software espião, e tem como alvo central o deputado Alexandre Ramagem, que é delegado da PF e ex-diretor da Abin.
"Em 28 de março de 2023, foi apresentada, nos termos declarados pelo sr. Paulo Maurício, a “estratégia” da Direção Geral para “tentar acalmar a turma”, registra relatório da PF, reproduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, na ordem de buscas da operação.
O episódio teria causado prejuízos para as apurações e para a Abin. "A reverberação das declarações da Direção da Abin", segundo o documento, "possui o condão de influir na liberdade e na percepção da gravidade dos fatos pelos investigados ao afirmar a existência de “fundo político” aos investigados".
O encontro ocorreu antes da posse de Luiz Fernando Corrêa, que foi superintendente da PF. Depoimentos do ex-diretor-geral da Abin Alessandro Moretti e outros servidores foram destacados. A PF cita que a diretoria teria convencido os servidores sobre "o apoio lá de cima" e sobre "fundo político" das ações.
"As afirmações, ainda, são contraditórias aos pedidos encaminhados pelo então Diretor Geral Alessandro Moretti, reforçados pessoalmente no dia 29 de março de 2023 ao E. STF, ou seja, um dia após a reunião da apresentação da “estratégia” para “tentar acalmar a turma” em 28/03/2023, e encaminhados ao Exmo. Ministro Relator expressamente solicitando: i) a obtenção oficial dos dados cadastrais dos números monitorados que já lhe eram disponíveis; ii) a concentração da investigação no E.STF por meio da sindicância em andamento na ABIN. que, até dezembro de 2022, ocupava a função de Diretor de Inteligência da Polícia Federal cuja essa unidade – Divisão de Operações de Inteligência - lhe era subordinada (…)"
"Não se identificou, por oportuno, normativo que autorizasse cidadãos alheios aos quadros da Abin receberem, dentre outras, informações sigilosas relacionadas às diligências em andamento", registra o relatório da PF.
Corrêa ainda não foi localizado pela reportagem para se manifestar sobre a investigação.
Resposta da Abin
Por meio de nota, a Abin afirmou que "há 10 meses a atual gestão da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) vem colaborando com inquéritos da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal sobre eventuais irregularidades cometidas no período de uso de ferramenta de geolocalização, de 2019 a 2021". "A ABIN é a maior interessada na apuração rigorosa dos fatos e continuará colaborando com as investigações", continua o texto.