Transplantados infectados com HIV: Justiça do RJ começa a julgar caso
Seis réus respondem por associação criminosa, lesão corporal e falsidade ideológica; audiência de instrução começa na tarde desta segunda-feira (24)
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Emanuelle Menezes
A Justiça do Rio de Janeiro começa a julgar, nesta segunda-feira (24), seis pessoas envolvidas na contaminação por HIV de pacientes transplantados após exames realizados no PCS Lab Saleme. Os réus eram funcionários ou sócios do laboratório, que emitiu os laudos negativos que resultaram nas infecções.
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A primeira audiência de instrução e julgamento acontecerá a partir das 13h. Nela, serão colhidos depoimentos das vítimas e de testemunhas apontadas pelo Ministério Público e pelas defesas dos seis acusados. Depois, os réus serão interrogados.
Os seis réus são:
- Walter Vieira, sócio e responsável técnico do PCS Lab Saleme
- Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, sócio do laboratório
- Ivanilson Fernandes dos Santos, funcionário e um dos responsáveis pelos laudos errados
- Jacqueline Iris Bacellar de Assis, auxiliar que assinou um dos laudos errados
- Cleber de Oliveira Santos, biólogo do laboratório
- Adriana Vargas dos Anjos, coordenadora técnica responsável pelo controle de qualidade dos exames
Os seis foram denunciados pelo Ministério Público em outubro. Eles vão responder pelos crimes de associação criminosa, lesão corporal e falsidade ideológica.
Na denúncia, a promotora Elisa Ramos Pittaro Neves aponta que o caso "não foi um fato isolado, resultado de uma conduta negligente. Mas demonstram a indiferença com a vida e a integridade física dos pacientes transplantados e demais pacientes recebem dos denunciados, que não hesitaram em modificar protocolos de segurança motivados apenas por dinheiro".
Órgãos infectados com HIV
O caso de contaminação é inédito na história dos transplantes no Brasil e veio à tona após um paciente, que recebeu um coração, começar a passar mal cerca de 9 meses após o transplante. Após uma série de exames, ele testou positivo para HIV. A notificação foi feita no dia 10 de setembro.
A Secretaria Estadual de Saúde descobriu, então, que pelo menos dois doadores eram soropositivos, mas o exame feito pelo PCS Lab Saleme – empresa privada que presta serviços para a SES-RJ – não detectou o vírus e liberou os órgãos para os transplantes.
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No total, seis pacientes transplantados foram diagnosticados com HIV. Outros 288 doadores foram testados pelo Hemorio, o hemocentro do Rio de Janeiro.
O PCS Lab Saleme foi contratado pelo governo do estado em dezembro de 2023, em um processo de licitação de R$ 11 milhões. Segundo a SES, o serviço foi suspenso após a descoberta dos pacientes infectados e, com isso, os exames para transplantes passaram a ser realizados pelo Hemorio.