Transplantados infectados com HIV: Polícia do RJ prende sócio de laboratório que emitiu laudos
Walter Vieira é ginecologista e responsável técnico do laboratório PCS Lab Saleme; um dos responsáveis por laudos também foi detido
A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu, na manhã desta segunda-feira (10), um dos sócios do PCS Lab Saleme, laboratório que emitiu os laudos negativos que resultaram em pelo menos seis pacientes testando positivo para HIV após receberem órgãos infectados com o vírus. O ginecologista e obstetra Walter Vieira é responsável técnico do laboratório. Ele é tio do deputado federal Dr. Luizinho (PP), ex-secretário de estado de Saúde do Rio de Janeiro.
Um dos responsáveis pelos laudos errados, Ivanilson Fernandes dos Santos, também foi detido pela Operação Verum, conduzida pela Delegacia do Consumidor (Decon). Agentes do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE) cumprem 11 mandados de busca e apreensão e quatro de prisão, nas cidades do Rio de Janeiro e Nova Iguaçu. A informação foi confirmada pela repórter do SBT Rio Renata Igrejas, que está na Cidade da Polícia, zona norte do Rio.
"As investigações indicam que os laudos, falsificados por um grupo criminoso, foram utilizados pelas equipes médicas, que foram induzidas ao erro e acarretou na contaminação dos pacientes. Um deles faleceu, e a Polícia Civil investiga as causas da morte", diz nota da Polícia Civil.
Segundo a Polícia Civil, há a suspeita de que laudos tenham sido falsificados também em outros casos. "Diversas diligências complementares estão sendo realizadas para identificar e responsabilizar toda a cadeia de profissionais envolvidos nesse esquema criminoso", afirmou a corporação.
Os envolvidos são investigados por crimes contra as relações de consumo, associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e infração sanitária.
Em nota, o deputado federal Dr. Luizinho (PP-RJ) afirmou que deseja punição rigorosa e exemplar aos responsáveis pelo caso. Leia pronunciamento na íntegra:
"O caso de transplantados contaminados com HIV é gravíssimo. É inadmissível que um ser humano faça um transplante e, por erros que nunca poderiam ocorrer, adquira uma nova doença. Espero que o caso seja investigado de forma rápida e os culpados sejam punidos exemplarmente.
Como médico há 27 anos, secretário de Saúde do Estado do Rio de Janeiro por duas vezes, com uma vida pública e privada dedicada de forma praticamente integral a melhorar e fortalecer nosso sistema de Saúde, desejo punição rigorosa aos responsáveis por este caso sem precedentes".
Entenda o caso
Seis pacientes que foram transplantados no Rio de Janeiro testaram positivo para HIV após receberem órgãos contaminados com o vírus. O caso é inédito na história dos transplantes no Brasil.
O caso foi descoberto após um paciente, que recebeu um coração, começar a passar mal cerca de 9 meses após o transplante. Após uma série de exames, ele testou positivo para HIV. A notificação foi feita no dia 10 de setembro.
A Secretaria Estadual de Saúde descobriu, então, que pelo menos dois doadores eram soropositivos, mas o exame feito pelo PCS Lab Saleme – empresa privada que presta serviços para a SES-RJ – não detectou o vírus e liberou os órgãos para os transplantes.
Até o momento, seis pacientes transplantados foram diagnosticados com HIV. Outros 288 doadores estão sendo testados pelo Hemorio, o hemocentro do Rio de Janeiro.
O PCS Lab Saleme foi contratado pelo governo do estado em dezembro de 2023, em um processo de licitação de R$ 11 milhões. Segundo a SES, o serviço foi suspenso após a descoberta dos pacientes infectados e, com isso, os exames para transplantes passaram a ser realizados pelo Hemorio.