Seca de 2019 e ação humana são os principais responsáveis por queimadas em 2024, diz especialista
Segundo coordenador de Inteligência Territorial do ICV, é preciso investir em estrutura e rapidez na detecção para aumentar chances de controlar o fogo
O governo do Mato Grosso do Sul decretou, na última segunda-feira (24), situação de emergência nas áreas do Pantanal devido a incêndios na região. A decisão se aplica a municípios afetados pelas queimadas, que já devastaram 627 mil hectares do bioma, sendo 480 mil hectares em Mato Grosso do Sul e 148 mil em Mato Grosso.
Desde o começo do ano, o Pantanal já registrou 3.262 focos de incêndio, número 22 vezes maior do que o registrado no mesmo período do ano passado (1º de janeiro a 23 de junho), conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
"Esses acontecimentos têm uma relação direta com a seca registrada em 2019. Temos visto uma redução do período chuvoso, abaixo da média histórica, e isso tem levado a uma situação de seca bastante intensa, o que torna o bioma mais suscetível à ocorrência do fogo", informa Vinícius Silgueiro, coordenador de Inteligência Territorial do Instituto Centro de Vida (ICV).
"O que tem chamado atenção especial é que, mesmo nos meses chuvosos de 2024, todos têm batido recorde na série histórica desde 1998, como os meses de maior registro de número de focos de calor. Isso ocorre porque as chuvas do período 2023-24 não foram suficientes para tornar a vegetação e o solo mais úmidos e, portanto, apresentar menor risco de ocorrência do fogo", completa.
Silqueiro cita como exemplo a situação atual do Pantanal neste mês de junho. Já são mais de 2.400 focos de calor, um aumento de mais de 500% em relação ao mês de junho mais crítico já registrado, que aconteceu em 2005, com 435 focos de calor, e 406 focos em 2020, ano em que o bioma teve 30% de sua área atingida pelo fogo.
Ação humana
Considerando apenas o Mato Grosso e os três biomas presentes no estado (Amazônia, Cerrado e Pantanal), 607.807 hectares de área já foram atingidos até o último dia 23 de junho, contra 478.096 no mesmo período em 2023. Um aumento de 27% na área atingida pelo fogo.
Segundo Silqueiro, além da questão climática, 95% das ignições têm origem em ação humana. "Sobretudo nos casos em que é intencional, a apuração, fiscalização e responsabilização é fundamental. Agora em julho se inicia o período proibitivo do uso do fogo em qualquer aspecto, então uma sinalização de que quem fizer fogo de forma intencional e criminosa será responsabilizado, seria muito importante, não deixa de ser uma prática preventiva".
Entre outras boas práticas recomendadas pelo coordenador, estão investimentos e alocação de recursos para estruturação das brigadas de combate, como Prevfogo, Ibama, Corpos de Bombeiros e esforços coordenados. "O combate e a detecção precisam ser o mais rápido possível. Quanto mais cedo você conseguir controlar o fogo no início, mas chances você terá de controlar esse fogo para que ele não se torne um incêndio de grandes proporções", aconselha.