Relatório mostra que avião que caiu em Vinhedo teve falha no sistema de degelo em 2023
Documentos mostram ainda que mecânicos recomendaram que a empresa evitasse enviar o bimotor para o Sul do país, por conta do frio
Relatórios mecânicos apontam que o avião da Voepass que caiu em Vinhedo (SP), na última sexta-feira (9), teve problemas com o sistema de degelo em pelo menos seis ocasiões em 2023. Os documentos, obtidos pelo jornal O Globo, mostram ainda que a empresa foi alertada para evitar voos do bimotor para o Sul do país, local com condições climáticas que poderiam favorecer o acúmulo de gelo na aeronave.
Segundo especialistas, falhas no funcionamento do sistema antigelo podem estar entre as causas que contribuíram para o acidente do ATR-72, que ocasionou a morte de 62 pessoas – 58 passageiros e 4 tripulantes.
+ Queda de avião em Vinhedo: dados mostram que aeronave teve "falha" em março de 2024
+ Peritos da Aeronáutica analisam histórico do avião da Voepass que caiu em Vinhedo (SP)
De acordo com O Globo, inspeções técnicas realizadas em julho do ano passado, em três aeroportos – de Ribeirão Preto (SP), Porto Alegre e Congonhas (SP) – detectaram o problema no avião.
Uma lista de ações pendentes de manutenção, chamada de Ação Corretiva Retardada (ACR), apontou, em 13 de julho de 2023, que a aeronave apresentava "restrições de gelo" e recomendou que a empresa deveria "evitar mandar o avião para o Sul". O relatório foi feito em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. No mesmo dia, porém, o bimotor voou para Porto Alegre, onde mecânicos voltaram a registrar que o sistema de degelo estava inoperante.
+ Cenipa confirma que caixas-pretas gravaram com sucesso registro de vozes
No dia seguinte, já em Congonhas (SP), uma nova inspeção também constatou que a aeronave estava "com restrição de gelo (evitar de mandar para região Sul)". No dia 18, o avião chegou a Congonhas ainda com problemas no sistema de degelo e com o gerador elétrico, que alimenta itens como a bomba hidráulica, a luz de pouso, a luz de cabine e a descarga do banheiro, inoperante.
Ainda no dia 18, já em Ribeirão Preto, mais um defeito foi apontado por mecânicos que realizaram a ACR, além dos problemas com o sistema de degelo e com o gerador elétrico. O indicador de situação horizontal, instrumento que apresenta informações sobre a posição do avião em relação a pontos de navegação, também não estava funcionando.
A Voepass afirmou ao SBT News que as manutenções realizadas em 2023 fazem "parte da rotina de todas as companhias aéreas do mundo". Ainda segundo a empresa, o sistema de degelo estava operante na sexta-feira (9), dia do acidente, "com a aeronave aeronavegável e apta a realizar o voo, dentro da legislação estabelecida".