Queda de avião em Vinhedo: dados mostram que aeronave teve "falha" em março de 2024
De acordo o Cenipa, a ocorrência foi de "falha ou mal funcionamento de sistema" durante voo de Recife (PB) para Salvador (BA)
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão ligado a Força Aérea Brasileira (FAB), informou, nesta segunda-feira (12), que a aeronave ATR-72-500, que caiu em Vinhedo e matou 62 pessoas na última sexta-feira (9), teve um "incidente aeronáutico" no dia 11 de março de 2024.
"O Cenipa informa que existe, na base de dados deste Centro, o registro de apenas uma ocorrência aeronáutica com a aeronave de matrícula PS-VPB, no dia 11 de março de 2024, em Salvador (BA), classificada como incidente aeronáutico, cujos dados estão disponíveis no Painel SIPAER.", diz o CENIPA em nota.
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Segundo a instituição, a ocorrência em questão foi uma "falha ou mau funcionamento de sistema". A aeronave partiu do Aeroporto dos Guararapes, em Recife (PE), com destino ao Aeroporto Deputado Luís Eduardo Magalhães, em Salvador (BA), quando apresentou uma mensagem de "baixo nível de óleo hidráulico". Os procedimentos previstos no manual foram realizados, e o voo prosseguiu normalmente.
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Nesta segunda-feira (12), o Cenipa encerrou a ação no local do acidente. Os dois gravadores de voo, também conhecidos como "caixas-pretas", foram transferidos para um laboratório em Brasília, onde passarão pelo processo de "preparação, extração e degravação" dos dados pela FAB. O relatório preliminar deve ser divulgado em 30 dias.
Como foi o acidente?
Segundo o especialista em segurança de voo Roberto Peterka, foi preciso reparar avarias estruturais. “Ele saiu fora da pista, causando danos no trem de pouso, na parte de baixo do avião, causando avarias", diz ele, que ressalta que isso, provavelmente, não contribuiu para o acidente fatal.
"Não deve ter interferência porque, naturalmente, ele foi submetido a um reparo padrão dentro dos conceitos do fabricante, as peças foram trocadas e ele permaneceu com a sua aeronavegabilidade, digamos, em condições", complementa.
Quinze anos separam as duas últimas grandes tragédias com voos comerciais no Brasil. Em comum, o Airbus da AirFrance, que caiu no oceano Atlântico em 2009, e o avião da Voepass enfrentaram condições climáticas adversas. Ninguém sobreviveu aos acidentes, que deixaram, juntos, 290 mortos.
A investigação sobre o acidente da AirFrance concluiu que os "pitots", sensores que, através da entrada do ar, marcam a velocidade do avião, congelaram, gerando uma série de eventos que confundiram os pilotos.
Com o Voepass, a hipótese é de que tudo tenha começado com o acúmulo de gelo nas asas. Nos dois casos, as aeronaves perderam sustentação e fizeram um mergulho no ar, chamado "parafuso chato".
"No parafuso chato, ele não tem velocidade para manter a sustentação. Ele vem alinhado com o solo, sem velocidade horizontal. Só a velocidade vertical, em queda livre. Dificilmente se consegue sair dessa condição", explica o especialista.
Nesse momento, porém, não é possível avaliar o quanto o clima foi decisivo para a queda do modelo ATR 72-500. "Porque um acidente não é uma única causa. Ele é uma sequência de eventos. Tudo isso daí a investigação é que vai dizer", acrescenta.
Pessoas já relatam problemas em aeronaves da Voepass
Passageiros que já viajaram em aeronaves da Voepass, antes do acidente, relataram problemas no ar-condicionado e outras avarias nos aviões da empresa.
Segundo um levantamento no site Reclame Aqui, de 11 de agosto do ano passado até o último sábado (11), foram registradas 867 reclamações, relacionadas sobretudo a ar-condicionado, conservação dos aviões e reembolso. Do total de queixas, 484 não foram respondidas.
Entre os relatos, passageiros citam "calor horrível" e que o "avião balançava demais, parecia que ia cair". Outro cliente relatou um atraso porque outro avião estava quebrado e que "é uma empresa cujos aviões estão todos em péssimo estado".
Em nota, a Voepass afirmou que "trabalha arduamente para atender as expectativas de seus clientes e é solidária a eventuais queixas, que são consideradas para aprimorar a prestação de nossos serviços, concentrando o atendimento a elas em seus canais oficiais".