Questões do Enem 2025 foram anuladas por "precaução", diz Camilo Santana
Repercussão de live do "monitor" Edcley Teixeira, que mostrou perguntas quase idênticas 5 dias antes do exame, fez MEC anunciar a anulação de três itens


Emanuelle Menezes
O ministro da Educação, Camilo Santana, afirmou nesta terça-feira (18) que a anulação de três questões do Enem 2025 foi tomada "por precaução" após relatos de possível antecipação de itens da prova em uma live no YouTube. Segundo ele, a decisão busca garantir a lisura do exame, enquanto a Polícia Federal abrirá investigação sobre o caso.
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Em entrevista à TV Educativa do Ceará, Santana disse que as questões anuladas podem ter sido vistas por um participante de pré-testes do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), que teria divulgado o conteúdo nas redes. O participante citado pelo ministro é o estudante de medicina Edcley Teixeira, que afirma que previu perguntas com uma "engenharia reversa" desenvolvida por ele (saiba mais abaixo).
"Segundo as informações que eu tenho, uma pessoa que participou desse pré-teste, divulgou e fez essa fala em uma live", declarou.
Na tarde de terça, o Inep confirmou que recebeu relatos de "similaridades pontuais" entre as questões apresentadas na transmissão ao vivo, realizada no último dia 11, e a prova aplicada no domingo (16).
Santana afirmou que o Enem "foi um sucesso" e pediu tranquilidade a candidatos e familiares. "O que ocorreu foi que houve ruídos em rede social. E eu determinei ao Inep, de imediato, quando tomei o conhecimento, que apurasse e tomasse as medidas cabíveis", disse o ministro.
Ele reforçou que a anulação das três questões visa evitar prejuízos aos participantes. "O Inep anulou, mas continuam valendo todos os outros 87 itens e também a redação", afirmou.
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Como funcionam os pré-testes do Enem
O Inep explicou que, antes de serem incorporadas ao Banco Nacional de Itens, as questões passam por testes estatísticos baseados na Teoria de Resposta ao Item (TRI), modelo que calibra o nível de dificuldade de cada pergunta.
Por isso, estudantes que participam de pré-testes têm contato prévio com itens que podem ser utilizados no Enem em anos seguintes.
Live exibiu questões praticamente idênticas
A crise começou após a divulgação de uma live, transmitida em 11 de novembro –cinco dias antes do exame –, em que o "monitor" Edcley Teixeira mostrou ao menos cinco questões quase idênticas às que apareceram oficialmente nas provas de Matemática e Ciências da Natureza.
Estudante de medicina e vendedor de serviços de consultoria para vestibulandos, Edcley nega ter tido acesso antecipado às provas e afirma que "previu" as perguntas por meio de um método próprio.
"Desenvolvi um método de algoritmo que dá a resposta de qualquer questão. Com poucos recursos, consegui revolucionar o Enem sem que ninguém soubesse até hoje. Agora sabem. Entendi a lógica do Enem e consegui prever as questões", disse em um vídeo publicado no Instagram após a repercussão do caso.
Nas redes sociais, candidatos levantaram suspeitas de vazamento e chegaram a demonstrar receio de que a edição de 2025 fosse anulada.
O que Edcley alega ter feito
O "monitor" apresentou uma série de explicações sobre como teria antecipado as questões:
1. Participação no Prêmio Capes Talento Universitário
Edcley diz ter participado da edição mais recente do Prêmio Capes Talento Universitário, voltado a estudantes de graduação, e que algumas questões usadas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) seriam posteriormente incorporadas ao banco do Enem. Ele afirma ter memorizado perguntas e replicado parte delas em seus materiais e lives.
Em maio, o perfil do MEC na rede social X publicou um vídeo de Edcley agradecendo pela participação no programa e pelo prêmio de R$ 5 mil. Nesta terça-feira (18), a publicação não estava mais disponível.

Posteriormente, em outro vídeo, o próprio Edcley recuou e disse que "não existe isso da Capes".
2. Suposta análise da Teoria de Resposta ao Item (TRI)
Ele afirma ter estudado a Teoria de Resposta ao Item (TRI) por mais de 10 anos e criado um algoritmo que identificaria padrões de formulação das questões, decifrando a lógica interna do exame por meio de uma "engenharia reversa" própria.
Ainda segundo Edcley, ele usou a Lei de Acesso à Informação (LAI) para ter acesso a provas especiais do Enem (formatos de aplicação adaptados, oferecidos para atender candidatos com necessidades específicas) e entender os temas mais cobrados nas provas.
3. Investigação de elaboradores e revisores do Enem
Edcley também declara rastrear, por meio de chamadas públicas, os nomes e CPFs de profissionais envolvidos na elaboração das provas desde 2009.
Ele afirma que pesquisou perfis em redes sociais e artigos acadêmicos publicados por eles para prever possíveis temas.
"Óbvio que vou acertar o Enem inteiro. O Enem inteiro é repetido. Eu descobri o padrão. Sabe quantas pessoas elaboram o Enem? 25 pessoas. Elas estão no Inep desde 2009. Sigam na rede social. Você vai conseguir saber no que elas estão pensando", disse.






