Quem são os deputados e delegados suspeitos de corrupção segundo delação de Gritzbach
Agentes públicos teriam negociado R$ 5 milhões para beneficiar Gritzbach enquanto ele estava sob investigação; OUTRO LADO: investigados negam acusações
Derick Toda
Fabio Diamante
Robinson Cerantula
Antônio Vinicius Gritzbach incluiu na deleção premiada feita ao Ministério Público (MPSP), que denuncia o envolvimento de agentes públicos com o Primeiro Comando da Capital (PCC), dois deputados e dois delegados.
A nova parte da delação, revelada na quinta-feira (19), foi assinada pela promotoria no dia 10 de setembro, quase dois meses antes da execução do delator, no Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Os parlamentares Delegado Olim (PP), Carlão Pignatari (PSDB), ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), e os delegados Fabio Pinheiro Lopes, conhecido como "Fabio Caipira", que é o atual diretor do Departamento Estadual de Investigações (DEIC), e Murilo Fonseca Roque, então titular do 24º Distrito Policial, são os novos nomes suspeitos de corrupção.
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Segundo a delação, o advogado Ramses Costa prometeu a Gritzbach a restituição do passaporte, desbloqueio de bens e a liberdade de transitar, enquanto o delator era investigado por lavagem de dinheiro comandada por Caipira, em 2022.
Ramses se reuniu com os agentes públicos mencionados e firmou um acordo de R$ 5 milhões, sendo R$ 800 mil em honorários e 4,2 milhões em propina, que teriam sido pagos pelo Gritzbach.
O pagamento foi realizado por meio de dois apartamentos de luxo, R$ 300 mil em transferência bancária e o restante em cheques e dinheiro em espécie.
Quem é o Carlão Pignatari
Empresário do ramo avícola, Carlão Pignatari foi prefeito por dois mandatos de Votuporanga, São Paulo, entre 2000 e 2008. Já como parlamentar, ele está no quarto mantado como deputado estadual, eleito pela primeira vez em 2010.
Entre 2021 e 2023, Carlão assumiu a presidência da Alesp, chegando a atuar como governador em exercício de São Paulo.
Na cadeira mais importante da Assembleia, o advogado Ramses Costa teria se reunido com ele para resolver os "problemas" de Gritzbach, de acordo com a delação.
Apesar de não aparecer na imagem, Ramses enviou uma mensagem ao delator descrevendo Carlão como "um dos maiores exportadores de frango do Brasil".
Quem é Fabio Caipira
Em entrevista a Revista Policial, Fabio Caipira contou que começou como delegado em 1992. Ele atuou no Grupo de Operações Especiais (GOE), assumiu distritos policiais em São Paulo, além de delegacias no DEIC até comandar o cargo de diretor do Departamento.
Em abril deste ano, o SBT News mostrou que Fabio Caipiria abandonou um grupo de whatsapp de uma força-tarefa contra o o PCC composta pela Receita Federal, Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), Ministério Público e Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
O motivo, segundo fontes internas, foi que o departamento de Investigações Facções Criminosas e Lavagem de Dinheiro, do DEIC, foi deixado de fora da Operação Fim da Linha porque integrantes do MPSP não confiavam na instituição de Caipira. A ação investigava a infiltração do PCC no transporte público de São Paulo.
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"Vocês fizeram uma operação na Transwolff sem nos chamar e com o apoio da PM, o que demonstra não haver necessidade da existência desta força-tarefa", escreveu Caipira, abandonando o grupo em seguida.
Quem é o Delegado Olim?
Antônio Assunção de Olim é delegado desde 1992. Ele já atuou no Departamento de Investigações sobre Narcóticos (Denarc), Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Delegacia do Aeroporto, ocupando cargos operacionais e de chefia.
Um dos casos de destaque da carreira de Olim foi a investigaçaõ sobre a morte da advogada Mércia Nakashima, em 2010.
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Delegado Olim está no terceiro mandato como deputado estadual, sendo eleito pela primeira vez em 2014.
Quem é Murilo Fonseca Roque?
Em 2022, Murilo Fonseca Roque conduzia o 24º Distrito Policial, localizado no Jardim Penha, zona leste de São Paulo.
Nos anos seguintes, ele foi o delegado plantonista do 8º Distrito Policial de São Bernardo do Campo e é o atual responsável pelo 3º Distrito Policial.
De acordo com a delação, ele participou da reunião e realizou o acordo com o advogado Ramses para beneficiar Gritzbach durante a investigação de lavagem de dinheiro.
Outros lados
Fabio Caipira afirmou, em nota, que a investigação departamento sobre lavagem de dinheiro contra Gritzbach foi realizada dentro da mais estrita legalidade. Dessa forma, ou o empresário faltou com a verdade para obter vantagens em seu acordo de delação premiada, ou foi enganado pelo mencionado advogado.
O deputado delegado Olim disse que a acusação é mentirosa e que o advogado usou o nome de várias autoridades para obter vantagens. Disse ainda que vai tomar todas as medidas legais cabíveis. Veja nota na íntegra* no final deste texto.
A assessoria de Carlão Pignatari informou que o parlamentar desconhece o conteúdo da delação e que não foi comunicado por qualquer investigação.
Murilo Fonseca Roque informou, por telefone, que a citação do nome dele na delação é uma mentira e que nunca conversou com o advogado Hamses ou recebeu dele.
*Nota do deputado Olim
"Recebo, com veemente indignação, notícias acerca do meu nome e de outras honradas autoridades com fatos nebulosos, imprecisos e improvados, os quais não guardam qualquer relação com a realidade. Não conheço, nunca estive ou recebi pessoalmente, o senhor VINICIUS GRITZBACH. Não mantive qualquer contato próximo ou mediato com essa pessoa. Nunca intermediei ou atuei pela gestão de procedimentos judiciais ou extrajudiciais a respeito dele, quem só soube existir quando do seu homicídio, publicamente divulgado, no aeroporto de Guarulhos. Também não tenho amizade, e não guardo nenhuma relação próxima com o advogado de prenome RAMSES. Na condição de Deputado Estadual, eu e outras autoridades, recebemos e atuamos em favor da cidadania e para atender legítimos interesses de pessoas que demandam ajuda. Esse, aliás, é o bom ofício de autoridades públicas que agem pelo povo, a quem representamos e quem nos confia responsabilidades. Repudio e expresso a minha cabal indignação ao uso de meu nome de forma vil, gratuita e indevida. Não recebi nenhuma notificação oficial a respeito desses fatos, e sigo absolutamente sereno com relação a esse episódio, sobre o qual haverei de me posicionar, cobrando das autoridades os esclarecimentos e demandando as responsabilidades devidas, no momento e nas vias apropriadas para fazê-lo."