Polícia Civil é deixada de lado em operação que mirou empresas de ônibus ligadas ao PCC
Delegado do Deic ficou sabendo de Operação Fim da Linha pela TV e abandonou grupo de WhatsApp da força-tarefa
A Operação Fim da Linha, que prendeu dirigentes de empresas de ônibus de São Paulo por suspeita de ligação com o PCC nesta terça-feira (9), causou um racha nas instituições que investigam o crime organizado na capital paulista. A Polícia Civil sequer participou da operação.
Delegados do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) descobriram a ação pela televisão. Eles participavam de uma força-tarefa que investigava a infiltração da facção criminosa no transporte público de São Paulo desde a execução de Adauto Soares Jorge, ex-presidente da empresa de transportes Transunião, em março de 2020.
Cerca de dois anos depois, a 2ª Delegacia de Polícia de Investigações sobre Crimes Patrimoniais de Intervenção Estratégica do Deic coordenou uma operação, com apoio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público, em que o vereador Senival Moura foi apontado como um dos envolvidos no crime. Adauto seria "testa de ferro" dele na direção da empresa, que era usada para a lavagem de dinheiro de membros do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Diferentemente do que aconteceu em 2022, com a Operação Proditor, a Polícia Civil não fez parte da Operação Fim da Linha. A ação foi conduzida por 340 policiais militares do Comando de Policiamento de Choque, incluindo agentes da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), que cumpriram os mandados de busca e apreensão e as quatro prisões. Também participaram 43 agentes da Receita Federal, 64 membros do Ministério Público e 2 agentes do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Mensagem de despedida no Whatsapp
O incômodo foi tanto que o diretor do Deic, Fabio Pinheiro Lopes, abandonou um grupo de Whatsapp da força-tarefa que investigava a ligação das empresas de ônibus com o PCC. O SBT News teve acesso à mensagem encaminhada pelo delegado, conhecido como Fabio Caipira, no aplicativo.
Nela, ele afirma que viu pelos jornais a ação na garagem da Transwolff, empresa que opera na zona sul da capital paulista. "Vocês fizeram uma operação na Transwolff sem nos chamar e com o apoio da PM, o que demonstra não haver necessidade da existência desta força-tarefa", escreveu Caipira.
Após a mensagem, ele abandonou o grupo, sendo seguido por outros delegados do Deic que também faziam parte da força-tarefa.
Fontes ouvidas pela reportagem acreditam que os policiais civis foram deixados de lado porque integrantes do Ministério Público não confiam na instituição. Só isso justificaria a 6ª Delegacia de Polícia de Investigações sobre Facções Criminosas e Lavagem de Dinheiro do Deic, especializada na investigação envolvendo o crime organizado, não participar da operação deflagrada nesta terça.