PF indicia dez pessoas pelo assassinato de indígena de 13 anos, em aldeia em conflito no RS
Indiciados disputam liderança da terra indígena Cacique Doble, no norte do estado; vítimas foram cercadas no fim de 2023 por "milícia privada" indígena
Dez indígenas foram indiciados pela Polícia Federal, nesta segunda-feira (16), pelo assassinato da indígena Paola Rodrigues, de 13 anos, executada em dezembro de 2023, na Terra Indígena Kaingang, em Cacique Doble (RS).
Os indiciados disputam a liderança da terra indígena Cacique Dobre, como é conhecida, na região norte do estado, desde 2022, com outros registros de mortes e agressões.
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Paola Rodrigues levou um tiro na nuca durante o cerco do grupo rival em sua casa, onde indígenas que fugiam dos "milicianos" se esconderam.
O relatório final do inquérito da Polícia Federal detalha a execução. "Um grupo de indígenas disparou com arma de fogo contra opositores, forçando as vítimas a fugir e buscar abrigo na casa de uma delas, onde vivia a Paola Rodrigues", informou nota da polícia.
"Os agressores cercaram a residência, que abrigava 15 pessoas, em sua maioria mulheres e crianças, e dispararam diversas vezes com espingardas de grosso calibre. Mesmo diante dos gritos de clemência das vítimas, que enfatizavam a presença de mulheres e crianças, os atacantes quebraram as janelas dos quartos nos fundos da casa e continuaram atirando contra as vítimas. Durante o ataque, Paola foi atingida na nuca e morreu instantaneamente", nota da PF sobre indiciamento na Terra Indígena Cacique Doble.
Tensão indígena
Desde meados de 2023, a tensão subiu na região, próximo da divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina. Dois grupos indígenas disputam a liderança, em guerra iniciada um ano antes, segundo a PF.
Quatro indígenas foram alvo de uma emboscada, em agosto de 2022, e vítimas de tentativas de homicídio. A PF prendeu três lideranças indígenas pelo crime.
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Desde então, registros de tentativas de homicídio, lesões corporais, danos, porte ilegal de arma de fogo, ameaças e indícios de formação de milícias privadas foram registrados pela PF, relacionados à disputa entre os grupos rivais.
Em outubro a PF deflagrou a segunda fase da Operação Menés para frear os crimes na região e "restabelecer a ordem pública". Foram presos 14 investigados e 44 mandados de busca e apreensão cumpridos na cidade de Cacique Doble (RS) e em Caseiros (RS), na Terra Indígena Monte Caseiros.
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Em março foi deflagrada a sexta fase da Operação Menés, com mais 11 prisões e 11 mandados de busca e apreensão. Homens da Força Nacional de Segurança Pública estão na região pera reforçar a segurança e evitar novos conflitos e mortes.
O relatório final da PF foi enviado à Justiça e ao Ministério Público. Os acusados foram indiciados por "crimes de homicídio qualificado, tentativa de homicídio, uso e disparo de arma de fogo, danos qualificados e milícia privada".
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