Pesquisa do MP revela que 80% dos passageiros com problemas em voos não acionam a Justiça
Levantamento feito em 19 aeroportos mostra que consumidores tentam resolver conflitos com companhias aéreas ou órgãos de defesa antes de recorrer ao Judiciário

Isabela Guimarães
Viajar de avião no Brasil segue sendo um desafio para muitos passageiros, marcado por atrasos, cancelamentos e extravios de bagagem. No entanto, a maioria dos consumidores evita levar esses problemas aos tribunais. Uma pesquisa inédita da Associação Nacional do Ministério Público do Consumidor (MPCON), divulgada nesta sexta-feira (26), revelou que mais de 80% dos passageiros que enfrentaram algum tipo de contratempo desde 2023 não recorreram à Justiça.
O levantamento foi realizado entre 12 e 25 de agosto de 2025 em 19 aeroportos do país e entrevistou 986 passageiros logo após seus voos. Desses, 472 relataram ter enfrentado problemas, que somaram 871 ocorrências no total, já que muitos passaram por mais de um contratempo. Mais da metade dos entrevistados (55,3%) afirmou ter enfrentado dificuldades em ao menos uma viagem no período analisado.
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Problemas mais comuns e busca por soluções: veja dados da pesquisa
Entre os principais problemas relatados estão cancelamentos, interrupções e remarcações de voos (26,1%), além de extravio ou dano em bagagens (24%). Atrasos superiores a uma hora (20%) e a duas horas (17,4%) também apareceram com frequência. Em quase um terço dos casos (29,9%), os passageiros atribuíram os transtornos às condições climáticas, mas em 41,8% dos relatos não houve qualquer relação com o clima.
Outro dado que chama a atenção é que apenas 28,7% dos passageiros receberam esclarecimentos das companhias aéreas sobre os problemas enfrentados. Já em relação à assistência material em casos de atraso, só 29,8% afirmaram que o apoio foi prestado em todas as vezes necessárias, enquanto 40% disseram nunca ter recebido suporte.
Mesmo diante das dificuldades, a grande maioria dos passageiros buscou solução diretamente com as companhias ou em órgãos de defesa do consumidor antes de acionar a Justiça. Dos que processaram as empresas, 86,9% haviam tentado resolver a questão por meios administrativos.
Entre os poucos casos que chegaram ao Judiciário, quase 30% dos entrevistados relataram vitória em todos os processos, enquanto outros 15,1% disseram ter tido mais decisões favoráveis do que desfavoráveis. Apenas 10% perderam integralmente, e 36% ainda aguardam o andamento dos processos.
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Para o promotor de justiça Paulo Binicheski, da Promotoria de Defesa do Consumidor do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), os dados desmontam o argumento de que há abuso por parte dos passageiros.
"A maioria evita ao máximo recorrer ao Judiciário e, quando o faz, suas reivindicações costumam ser reconhecidas. Isso mostra a necessidade de que as companhias aéreas assumam sua responsabilidade e melhorem o atendimento", afirmou.
A pesquisa, realizada presencialmente nos aeroportos para garantir precisão nos relatos, contou com a participação de equipes do Ministério Público e de órgãos de defesa do consumidor, reforçando a fidedignidade dos resultados.