“Me senti suja e culpada", diz Anitta sobre abuso sexual aos 14 anos; como abordar assunto?
Em entrevista ao cantor J Balvin, cantora disse que conhecia agressor, o que acontece na maior parte dos casos, segundo especialista
A cantora Anitta falou novamente sobre o abuso sexual que sofreu aos 14 anos no documentário “A Great Day with J Balvin”, onde o artista colombiano conversa com amigos famosos. Segundo a artista, o caso aconteceu com alguém que ela conhecia e mantinha um relacionamento na época.
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"Vivi com isso por muitos anos e, nesse ponto, eu me senti tão suja, miserável e culpada. Eu tinha em minha mente a imagem de um sonho e como eu queria que as coisas fossem, e não eram. E eu me culpei.", disse.
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Segundo a artista, até pouco tempo atrás ela se considerava culpada pelo abuso.
"Eu sempre tive medo do que as pessoas iam falar: 'Como ela pode ter sofrido isso e hoje ser tão sexual, ser tão aberta?'. Eu não sei.", disse.
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A artista já havia revelado o episódio durante o documentário “Anitta: Made in Honório”, lançado em 2020. No depoimento, feito sozinha diante de uma câmara, Anitta conta ter se envolvido com um “homem autoritário” e que sentia medo dos momentos em que ele estava nervoso.
Não culpar as vítimas e, sim, apoiá-las
O psicólogo Denis Ferreira ressalta que é preciso deixar claro para as vítimas da violência sexual que elas não são culpadas e, sim, os agressores.
"A gente precisar criar uma sociedade, uma linguagem, uma cultura para ficar muito claro que a violência sexual é responsabilidade dos agressores, e não das vítimas. Porque quanto mais culpada uma pessoa se sente, menos condições ela tem de falar sobre aquilo", explica.
Casos não param de acontecer: agressor geralmente conhece a vítima
Nos cinco primeiros meses de 2024, foram registradas 14.468 denúncias relacionadas à violência sexual de crianças e adolescentes no país, segundo o Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos. De acordo com o órgão, Observatório Nacional dos Direitos Humanos a faixa entre 10 e 14 anos representa o maior montante de vítimas de violência sexual no país
Reconhecer sinais de forma precoce, oferecer apoio à vítima e denunciar o agressor são ações essenciais para proteger crianças e adolescentes do abuso sexual.
De acordo com o Denis, o mais comum é que o agressor seja da família ou conhecidos. "Não são monstros, ao contrário do que muitos pensam", pontua
"São os nossos pais, nossos tios, nossos avós, companheiros. Embora sejam pessoas trabalhadoras, com relacionamentos estáveis e boas na maior parte do tempo, também são criminosos", explica.
Como reconhecer sinais?
As vítimas de abuso podem apresentar os seguintes comportamentos, segundo a Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente:
1. Mudança de Comportamento – alterações de humor, agressividade ou introspecção, vergonha excessiva, medo ou pânico; rebeldia, ataques de raiva; comportamentos infantis, que a criança já abandonou anteriormente, como chupar dedos ou voltar a fazer xixi na cama;
2. Problemas de saúde sem causa aparente – enfermidades sem causa clínica aparente, como dores de cabeça, erupções na pele e alterações gastrointestinais;
3. Comportamentos sexuais – interesse repentino por questões sexuais ou brincadeiras de cunho sexual, com palavras ou desenhos que se refiram às partes íntimas.
De acordo com a advogada Alessandra Borelli, as crianças podem ter depressão, sentimento de culpa, vergonha e perda de autoestima. Em casos mais graves, podem desenvolver distúrbios de estresse pós-traumático.
Como denunciar
Denúncias de abuso sexual contra crianças e adolescentes devem ser feitas, prioritariamente, no Conselho Tutelar da cidade ou pelo Disque 100. Elas também podem ser feitas:
- em delegacias especializadas no atendimento de crianças ou mulheres;
- em qualquer delegacia de polícia;
- pelo WhatsApp (61) 99611-0100, que também faz parte do Disque 100;
- pelo 190, da Polícia Militar, em caso de risco imediato.