Ministério Público denuncia policiais que abordaram filhos de diplomatas negros no Rio de Janeiro
O caso aconteceu no dia 3 de julho de 2024; vídeo que circulou nas redes sociais mostra o momento em os policiais abordam os três meninos
Correção: Ao contrário do informado, no texto publicado às 20h15, o Ministério Público do Rio de Janeiro ofereceu denúncia e não tornou réus os policiais envolvidos. Abaixo segue texto corrigido.
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) denunciou, nesta segunda-feira (9), os policiais militares que abordaram três filhos de diplomatas negros em Ipanema, no Rio de Janeiro, no dia 3 de julho de 2024. A decisão foi tomada por meio da 2ª Promotoria de Justiça junto à Auditoria de Justiça Militar.
Luiz Felipe dos Santos Gomes e Sergio Regattieri Fernandes Marinho responderão pelos crimes de ameaça e constrangimento ilegal. Segundo a acusação, o promotor de Justiça Paulo Roberto Mello Cunha Júnior destacou que, durante a abordagem, os policiais disseram às vítimas para ficarem atentas, insinuando que estariam praticando o crime de roubo na localidade
O caso aconteceu no dia 3 de julho, e câmeras de segurança flagraram a abordagem. Os policiais afirmaram que estavam à procura de adolescentes que haviam roubado dois turistas na região.
Veja:
O caso, que gerou grande repercussão, foi investigado para apurar possíveis excessos e discriminação racial por parte dos policiais envolvidos. Em agosto, a Polícia Civil do Rio de Janeiro concluiu que não houve prática de racismo durante a abordagem.
Os investigadores afirmam que nenhum dos adolescentes abordados relatou ter ouvido palavras ofensivas, xingamentos, termos racistas ou qualquer tipo de humilhação por parte dos policiais. Essas declarações foram corroboradas pelas imagens das câmeras corporais dos agentes.
Relembre o caso
Policiais apontaram armas para três filhos de diplomatas negros na noite desta quarta-feira (4), em Ipanema, no Rio de Janeiro. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento em que três policiais abordam os três meninos, que estavam acompanhados de dois garotos brancos, brasileiros. A família de um dos brasileiros denuncia racismo durante a abordagem.
Em um post nas redes sociais, a mãe de um dos adolescentes, Raiana Rondhon, contou que o grupo de quatro meninos de 13 e 14 anos que está de férias no Rio deixava um amigo na porta de casa quando foi abordado. O relato foi publicado inicialmente nas redes sociais do jornalista Guga Noblat.
"Uma viagem de férias, planejada há meses entre quatro amigos. Com destino ao Rio, quatro adolescentes de 13 e 14 anos, acompanhado dos avós de um deles, experienciaram nas primeiras horas a pior forma de violência. Às 19h, voltando para casa em Ipanema, foram deixar um amigo na porta de casa, na Rua Prudente de Moraes, quando foram abruptamente abordados por policiais militares, armados com fuzis e pistolas, e sem perguntar nada, encostaram os meninos (menores de idade) no muro do condomínio. Três, dos quatro adolescentes, são negros! Com arma na cabeça e sem entender nada, foram violentados. Foram obrigados a tirar casacos, e levantar o 'saco'", diz o texto.
"Após a abordagem desproporcional, testemunhada pelo porteiro do prédio, é que foram questionados de onde eram, e o que faziam ali. Os três negros não entenderam a pergunta, porque são estrangeiros, filhos de diplomatas, e portanto não conseguiram responder. Caetano, o menino branco e meu filho, disse que eram de Brasília e que estavam a 'turismo'. Após 'perceberem' o erro, liberaram os meninos, mas antes alertaram as crianças que não andassem na rua, pois seriam abordados novamente", continuou.
A mulher, então, afirmou que "o incidente envolveu três países diferentes", Canadá, Gabão e Burkina Faso, e que acionou o Itamaraty e os consulados no Rio de Janeiro.
"As imagens, os testemunhos e o relato das crianças são claros! Não há dúvida! A abordagem foi RACIAL e CRIMINOSA! Há anos frequentamos o Rio e nunca presenciei nada parecido no quadradinho de Ipanema com meus filhos. É um lugar aparentemente seguro. Depende pra quem! Antes da viagem, fiz inúmeras recomendações, alertas e conselhos de mãe preocupada: 'não ande com o celular na mão, cuidado com a mochila, não fiquem de bobeira sozinhos'. Pensei em diversas situações, mas JAMAIS que a POLÍCIA seria a maior das ameaças. É traumático, triste, é doloroso. Estão assustados e machucados, com marcas que nem o tempo apagará. O incidente envolveu três países diferentes (Canadá, Gabão e Burkina Faso). O Itamaraty já foi informado e os consulados no Rio já estão em ação. Sabemos que isso acontece todos os dias, mas não vamos nos calar", finalizou.