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Homem gasta R$ 200 por dia em crack e diz que não se reconhece mais

Pedro conta que começou na cocaína, droga que conheceu por meio de pessoas da "alta sociedade"

Homem gasta R$ 200 por dia em crack e diz que não se reconhece mais
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Antigo dono de padaria na zona leste de São Paulo. Um homem de comércio, bem-sucedido e um dos dez filhos mais amado pela sua mãe.

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Pedro, de 47 anos, nome fictício que escolheu para a reportagem, bebia apenas socialmente. Quando fechava o negócio dele no final de semana, gostava de sair com amigos próximos ou com colegas de trabalho para um “forrozinho”, no máximo um “barzinho”.

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Quando conheceu gente da “alta sociedade”, que preferia ir para baladas de luxo da cidade, as novas companhias apresentaram para ele a cocaína.

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A droga fez com que ele perdesse quase tudo. Deixou a paixão pelo trabalho, a administração da padaria, o contato com a família e os amigos. “A gente começa a fugir da rotina do dia a dia, até fugir do círculo de amizade que a gente tem, com medo que as pessoas descubram do uso”.

O "perder tudo" só chegou quando ele estava trabalhando como balconista, em uma tentativa de continuar a vida. Novos colegas disseram que a cocaína não dava “brisa”, que era para ele parar de usar este entorpecente e experimentar o crack.

“Eu falei deixa eu ver. Na primeira vez, não gostei, aí fumei de novo, fumei de novo e depois não quis mais cocaína, só crack”.

Pedro está há pelo menos seis anos vivendo ou tentando sobreviver na Cracolândia, seja pelo seu vício, pela violência do crime organizado que o cerca ou pelo dia a dia.

Hoje, é um homem que vive com um nariz quebrado, prefere ficar sujo para evitar que outros dependentes químicos ou falsos amigos se aproximem.

Ele já tentou roubar, mas viu que não serve para o assalto, afirma que não se reconhece mais, mas que se emociona com a possibilidade de um dia voltar a se amar e poder entregar o amor que a família dele espera.

Sustento

Como sustento, no lixo espalhado pelas ruas do centro, ele procura materiais para fazer artesanato e vender plantas. Em seguida, usa o dinheiro, em média R$ 150 a 200 por dia, para comprar crack - raramente para comer.

Nariz quebrado

Pedro conta que teve o nariz quebrado por causa de uma discussão sobre política. Ele conta que um dos dependentes químicos estava com uma faixa e gritando a favor de Lula. “Eu falei, parceiro, eu sou usuário de drogas, mas não voto nesse ladrão. Eu votei em Bolsonaro. Quando eu olhei para trás, o camarada, com um pedação de madeira, me bateu, eu caí desmaiado”.

Falsos amigos

Sem lembrar a última vez que tomou banho, ele prefere ficar sujo para evitar contato com outras pessoas. Pedro afirma que não tem amigos, namorada, e os dependentes químicos que tentam ficar ao seu lado são para pedir droga.

Roubo

“Uma vez, na vontade de usar droga, o dia tinha amanhecido e eu tava com muita vontade de fumar o crack. Eram 6 horas da manhã e não tinha mais nada de dinheiro. Sai caminhando e encontrei com o diabo”.

O" diabo" era um homem que incentivou Pedro roubar um celular e vender na Cracolândia para ficar “sossegado” com dinheiro que seria utilizado para usar droga o dia inteiro.

“Ele falou, nunca roubou não? Então vou deixar você roubar primeiro. Me deu uma faca e falou 'quando o camarada vir você fala 'passa a carteira, o celular' e sem muita conversa'”.

Pedro chegou com a faca na mão, mirou em um homem “baixinho” e o abordou. “Esse homem não sentiu confiança, veio pra cima de mim e eu saí com a faca na mão correndo e gritando socorro por toda Santa Efigênia. Não presto para ser ladrão”.

Reconhecimento

Questionado sobre a mudança física depois do crack, Pedro disse que não consegue mais se ver no espelho. “Não tem condição de me ver, isso aqui é uma que sei lá, a droga consumiu. Não tem nada a ver comigo. Eu olho para a minha pessoa, mas na minha mente o que passa é outra visão, passa um filme na minha cabeça. Preciso criar vergonha na cara para ter amor próprio, respeito, mas é uma conjuntura”.

Amor

Por trás de toda conjuntura, Pedro acredita que vai parar e se não acreditasse que fosse possível, ele não estaria aqui.

“Eu tenho que me amar mais do que qualquer outra pessoa, mas, além de tudo, a família que eu tenho. Preciso sair por mim, mas por eles também. Eles merecem todo o respeito da minha parte porque minha mãe me criou. São dez filhos e é aquela mãe exemplo, uma mulher guerreira".

Acompanhe a série especial Centro do Crime

O SBT exibe nesta semana a série especial Centro do Crime, sobre a situação na Cracolândia de São Paulo. Aqui você revê os episódios já exibidos da série.

Episódio 1: O lixo que alimenta

Episódio 2: Os novos traficantes da Cracolândia

Episódio 3: O censo da Cracolândia

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