Gari morto em BH: delegada admitiu ao irmão que suspeitava do marido
Em ligação, Ana Paula Nogueira disse que estava atordoada e tentava apurar o envolvimento de Renê no crime

Estado de Minas
SBT News
A delegada Ana Paula Lamego Balbino Nogueira, esposa de Renê da Silva Nogueira Júnior, acusado de matar o gari Laudemir de Souza Fernandes, disse ao irmão, no dia do crime, que suspeitava do marido. A informação foi confirmada pelo familiar em depoimento à 4ª Subcorregedoria da Polícia Civil de Minas Gerais e anexada ao inquérito policial.
Ao ser intimado pela corporação, o irmão de Ana Paula relatou que ligou para “sondar” se o carro dela seria o mesmo que aparecia em uma reportagem sobre a morte de Laudemir.
Na ligação, segundo ele, a irmã disse estar atordoada e tentava apurar se Renê estava envolvido, ou não, com o fato. Os dois voltaram a se falar mais tarde, quando a delegada já sabia que o marido havia sido abordado pela polícia.
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Ana Paula acompanhou registro do boletim de ocorrência
Ainda segundo o inquérito, antes da prisão de Renê, em 11 de agosto, Ana Paula já tinha conhecimento de que o marido poderia estar envolvido no homicídio ocorrido no Bairro Vista Alegre, região oeste de Belo Horizonte (MG).
Ela chegou a acessar o sistema de Registro de Eventos de Defesa Social (REDS), que reúne boletins de ocorrência, e realizou 29 pesquisas sobre o crime, incluindo seu nome, o da vítima, o de Renê e a placa do carro usado pelo suspeito. As consultas aconteceram das 10h30 às 13h20.
Durante o dia do crime, Ana Paula manteve contato com o marido em 23 ligações entre 9h18 e 16h33, momentos antes da prisão de Renê pela Polícia Militar de Minas Gerais.
Também foram recuperadas mensagens e áudios que indicam que a delegada tinha ciência de que o marido tinha acesso a suas armas de fogo, entre elas uma pistola calibre .380 utilizada no homicídio.

Delegada nega ter autorizado uso da arma
A Corregedoria da Polícia Civil instaurou um procedimento administrativo para investigar a participação da delegada no crime. Ana Paula foi levada até a sede do órgão para ser ouvida a respeito do uso de sua arma pessoal no possível crime, e teve celular e armas apreendidos.
Conforme consta em seu termo de declaração, anexado ao inquérito, a servidora afirmou que guardava as armas em casa, no escritório particular.
Ao ser questionada se o marido sabia onde as armas ficavam guardadas, a delegada disse acreditar que sim, mas não podia afirmar. Em relação à possibilidade de Renê usar as pistolas em alguma situação, Ana Paula afirmou que “nunca presenciou” o investigado manejando as armas e “nunca” autorizou, cedeu, forneceu ou emprestou.
No entanto, as informações dadas pela servidora foram refutadas por causa das mensagens. A Corregedoria concluiu que a delegada não acionou a polícia ao saber do crime, configurando suposta prevaricação. Além disso, foi indiciada por porte ilegal de arma de fogo por ceder ou permitir que Renê tivesse acesso aos armamentos de sua responsabilidade, de uso pessoal e profissional.
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O que diz a defesa?
O advogado de Ana Paula, Leonardo Avelar Guimarães, afirmou que, devido ao estado de saúde da servidora, não foi possível o “exercício efetivo do seu direito de defesa no referido inquérito”. A delegada não se pronunciou publicamente desde a prisão do marido.
“O mérito dessa conclusão será discutido oportunamente, assim como outras questões já publicizadas. Ela [Ana Paula] não teve condições de esclarecer pessoalmente os fatos investigados pela Corregedoria em razão do seu estado atual”, declarou.