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Exclusivo: atendimento psicológico de GCMs em SP quase triplica em 2024

Assassinato de secretário de Osasco por guarda civil dispara alerta para saúde mental dos agentes, apontam especialistas

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Guarda Civil Metropolitana de São Paulo | Reprodução/ Confederação Nacional dos Municípios
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A Polícia Civil de São Paulo acredita que mudanças na função e no horário de trabalho motivaram o agente civil de Osasco Henrique Marival de Sousa a assassinar o secretário-adjunto Adilson Custódio Moreira. O caso chama atenção para a saúde mental das forças de segurança, especialmente as guardas civis municipais, segundo especialistas.

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Para Renata Marcondes, presidente da ONG AFAPM, que oferece apoio PMs e GCMs, a Guarda Civil é cobrada para atuar como Polícia Militar, e com problemas da saúde mental que "afetam todos os agentes de segurança pública". Durante as últimas eleições municipais, uma das pautas foi o reforço do armamento da Guarda.

Agentes da GCM atuando na região da Cracolândia, maior cena aberta de consumo de drogas do país | Paulo Pinto/Agência Brasil
Agentes da GCM atuando na região da Cracolândia, maior cena aberta de consumo de drogas do país | Paulo Pinto/Agência Brasil

"Ele [Henrique] foi transferido para outra função. Transferências ocorrem todos os dias nas forças de segurança. O que não está legal é a cabeça dos agentes de segurança, também por baixos salários e pelo trabalho em si", explica Renata.

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Nunca tantos guardas civis metropolitanos da capital paulista procuraram ajuda com a saúde mental como atualmente. De janeiro a setembro do ano passado, 1.626 agentes passaram por atendimento psicológico oferecido pelo programa da corporação 'Casa de Atenção' - recorde da série histórica iniciada em 2014.

Segundo a Secretaria Municipal de Segurança Urbana de São Paulo, em relação ao mesmo período de 2023, a quantidade de GMCs atendidos quase triplicou.

Ao todo, desde abril de 2014, data da inauguração do programa, 11.992 atendimentos foram realizados para guardas da capital paulista. Os dados foram obtidos com exclusividade via Lei de Acesso à Informação.

O SBT News pediu um posicionamento para a pasta, mas ainda não obteve resposta. O espaço segue aberto.

O que está por trás dos dados?

Para Elizandra Souza, psicanalista criminal que atende agentes da segurança pública, a cultura violenta interna das corporações impacta na saúde mental dos profissionais.

"Estresse em razão da pressão, da cultura organizacional da corporação, que tolera mais comportamentos agressivos, mas não oferece aos agentes suporte profissional adequado", diz Elizandra.

Enquanto guardas civis de outras cidades possuem colete balístico, agentes de Rio Grande da Serra ficam sem | Reprodução
Enquanto guardas civis de outras cidades possuem colete balístico, agentes de Rio Grande da Serra ficam sem | Reprodução

Além disso, a falta de condições de trabalho para esses profissionais, que devem garantir a segurança da população nas ruas, é outro inimigo da saúde mental. "A própria atividade traz muita pressão, é muito pesada", pontua a psicanalista.

Por exemplo, em Rio Grande da Serra, município de São Paulo, toda a ação da Guarda Civil Municipal, em ocorrências e patrulhas preventivas, está suspensa desde o dia 4 de dezembro. O motivo é o vencimento dos coletes balísticos da GCM, que possuem prazo de validade de cinco anos. Novas proteções balísticas, vitais para a segurança dos próprios guardas, ainda não foram adquiridas.

O SBT News questionou a prefeitura do município sobre a reposição dos coletes e até o momento não obteve resposta.

Sinais de atenção de que algo não vai bem são sutis

Lizandra aponta que os sinais de atenção de que algo não vai bem começam inconscientemente, como no aumento do uso de substâncias químicas, dificuldades de expressar as próprias emoções e diminuição do desempenho em campo.

Essas mudanças, no entanto, costumam ser bem sutis no começo: "Dar respostas mais ríspidas ou passa a ter um olhar mais raivoso, por exemplo", são algumas delas, pontua a especialista.

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