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Entenda elos do PCC com bancos digitais alvos da PF que movimentaram dinheiro do crime: R$ 7,5 bi sob suspeita

"Concierge do crime" movimentou mais de R$ 3 mi da UPBus; outro negócios e pessoas investigados por ligação com facção e o tráfico eram clientes

Entenda elos do PCC com bancos digitais alvos da PF que movimentaram dinheiro do crime: R$ 7,5 bi sob suspeita
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Dados obtidos pela Polícia Federal (PF) apontam que a UPBUs, empresa de ônibus que opera no transporte urbano em São Paulo suspeita de ser usada por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), movimentou mais de R$ 3 milhões em um curto período, em uma das duas fintechs alvos da Operação Concierge, deflagrada na última quarta-feira (28).

+ Criador de fintechs que lavaram R$ 7,5 bi do crime já foi preso por fraude em leilões da Aneel

O esquema envolveu a I9Pay e a T10 Bank, baseadas em Campinas (SP), e movimentou pelo menos R$ 7,5 bilhões de forma irregular no sistema financeiro, desde 2019, indicam as investigações. O SBT News teve acesso aos documentos do processo.

A UPBus foi apenas uma das empresas suspeitas investigadas por elos com o PCC e o tráfico de drogas, que aparecem entre as clientes dos dois bancos digitais alvos da PF. As fintechs foram usadas no megaesquema de lavagem de dinheiro, ocultação patrimonial e blindagem dos donos contra investigações e autoridades, segundo os investigadores.

O esquema envolvia o uso das fintechs, que vendiam sem autorização do Banco Central contas para quem quisesse movimentar dinheiro, sem ser identificado, apontaram a PF e o Ministério Público Federal (MPF).

Em bancos oficiais, contas eram abertas em nome da I9Pay e da T10Bank, que vendiam subcontas irregulares aos seus clientes. Os donos dos valores não eram identificados nas transações, nem a origem do dinheiro, feitas em dois bancos regulares, Bonsucesso e Rendimento.

Caso UPBus

A T10Bank tinha cerca de 680 clientes, segundo mostrou a quebra do sigilo obtida pela PF. A UPBus aparece como um dos clientes com alta movimentação financeira: mais de R$ 4,5 milhões (entrada e saída), de setembro a novembro de 2023.

Ao analisar a movimentação da conta aberta pela T10Bank no banco Rendimento, a PF destaca que chamaram a atenção os valores que aparecem na "subconta" em nome da UPBus. Ela virou a 11ª cliente com maior volume de recursos enviados e a 7ª em valores recebidos de terceiros.

A UPBus e seus donos foram alvos da Operação Fim da Linha, do Ministério Público Estadual de São Paulo, em maio. A UPBus e a Trasnswolff — outra concessionária da prefeitura de São Paulo e alvo dos promotores paulistas — teriam como sócios ocultos integrantes da facção, acusados de usarem os negócios para ocultação patrimonial e para lavagem de dinheiro do tráfico de drogas.

"Por se tratar de uma conta bolsão, conforme já mencionado na Informação de Polícia Judiciária e no Laudo, a seguinte informação deve ser entendida como: a empresa UPBus Qualidade em Transportes S.A. enviou, por meio de suas contas, R$ 3.011.419,98 para clientes que mantêm uma subconta na T10 BANK. Além disso, a UPBUS recebeu, nas contas referidas acima, R$ 1.554.231,00 que tiveram como origem clientes da T10 BANK. Essas transações ocorreram no curto período de tempo de 14.9.2023 a 30.11.2023", diz trecho de documento da Operação Concierge, da PF.

No pedido de prisão dos donos das fintechs, a PF destaca os nomes dos sócios da UPBus, entre eles, o de Ubiratan Antonio da Cunha, que seria uma identidade usada por Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, um dos líderes do PCC.

Concierge do crime

O cabeça da lavanderia de dinheiro montada em Campinas, interior de São Paulo, seria o contador Aedi Cordeiro dos Santos, segundo a PF. Um velho conhecido das autoridades, preso em 2021 na Operação Black Flag. Liberado 100 dias depois, virou réu no processo, mas teria continuado a cometer crimes. Foi um dos 15 presos da Operação Concierge — dois ainda estão foragidos —, nesta semana.

Segundo os investigadores, ele atuava como um concierge do crime — termo do francês usado para um serviço ao gosto do freguês.

"Aedi é apontado pela autoridade policial e MPF como o líder da organização criminosa investigada. Ele seria o responsável por operacionalizar empresas supostamente de fachada para lavagem de capitais das mais diversas tipologias, tanto para si quanto para terceiros. Finalmente, observou-se ao longo da investigação que Aedi Cordeiro se utilizou de uma teia de supostos laranjas. (...) Existem veementes indícios de que as duas fintechs que constituem o núcleo da presente investigação atuariam como BANCOS DIGITAIS CLANDESTINOS e serviriam à blindagem patrimonial e à lavagem de capitais", apontam trechos da decisão da Justiça Federal da Operação Concierge.

A T10Bank e a I9Pay foram criadas pelo contador Aedi Cordeiro, com Denis Arruda Ribeiro e Patrick Bezerra Burnett, segundo a PF. Elas vendiam "contas garantidas", que serviam para ocultar o verdadeiro dono e a origem do dinheiro, abertamente na internet. Os sócios negam crimes.

Elos suspeitos

O sócio Denis Ribeiro, da T10Bank, é investigado em outras frentes citadas pela PF por supostos elos com negócios do PCC. Um dos destaques do pedido prisão é o suposto esquema "da lavagem de capitais para o PCC da Yespay Soluções de Pagamentos".

"Demonstra-se mais uma vez a estreita relação entre AEDI CORDEIRO DOS SANTOS e DENIS ARRUDA RIBEIRO fazendo o uso de pessoas jurídicas de fachada para operar o branqueamento de capitais para terceiros e obter lucro, ainda que seus clientes sejam integrantes da facção criminosa paulista (PCC)", detalha documento da Operação Concierge.

As investigações identificaram que Denis Ribeiro tem "empresas em nome de laranja" e destacam a YesPay — sócia da YesPag Soluções de Pagamentos. "Conforme comunicação feita ao COAF obtida com autorização judicial e mencionada na Informação de Polícia Judiciária, a YESPAY foi alvo de operação policial por lavagem de dinheiro ao Primeiro Comando da Capital".

A I9Pay também é suspeita de movimentar dinheiro do crime. A PF identificou movimentação financeira suspeita e sem origem em nome de homem acusado de tráfico de drogas, detido em maio de 2018, solto em abril de 2021 e preso novamente em junho de 2023.

Segundo a PF, Vital Cardoso da Silva Neto, que aparece nos dados, "não se trata somente de um motorista de carro de passeio", como declara. "Vital Cardoso consta como agrônomo de Petrolina (PE) e recebeu o total de R$ 1.644.693,51 em sua conta, sendo que R$ 788.788,90 foram enviados pela própria I9PAY".

"Esse titular que já foi condenado por tráfico de drogas e se encontra preso, provavelmente, até esta data, recebeu mais de R$ 700 mil da I9PAY, o que não é visto no extrato bancário da I9PAY comunicado pelo caso SIMBA. E questiona-se porque a ADIQ comunica somente o recebimento de R$ 60 mil por esse titular, em face dos R$ 788.788,90 comunicados pelo banco", diz trecho de documento da PF na Operação Concierge.

Um informe feito ao Coaf, pela Adiq Instituição de Pagamento S.A., de transação atípica em 2023, indicou que Vital Cardoso, que moraria em Juazeiro (BA), teria recebido R$ 60 mil via I9Pay, em uma firma, a Vital Store. O comunicado registra que ele era motorista de carro de passeio, com renda presumida de R$ 1,5 mil a R$ 3 mil, e que usava a fintech I9PAY.

O MPF deve denunciar os investigados ainda em setembro. Os documentos e provas apreendidos na Operação Concierge estão sob análise da PF.

Envolvidos negam

Os bancos oficiais envolvidos no esquema e a defesa de uma das fintechs negaram envolvimento em irregularidades. A defesa de Aedi Cordeiro não foi localizada. O espaço está aberto para manifestações.

O Banco BS2 (antigo Bonsucesso) disse que está colaborando com fornecimento de informações à Polícia Federal e Receita Federal relativas a movimentações financeiras de um cliente. "Estamos prestando todos os esclarecimentos demandados pelas autoridades competentes e reafirmamos nossa atuação em conformidade com a regulamentação vigente", relatou a empresa em nota.

Conforme a assessoria do Banco Rendimento, a instituição "segue todas as regulamentações do Banco Central e órgãos competentes, também aplicadas desde o início da relação com a T10 Bank, onde todas as avaliações recomendadas foram executadas". Ainda conforme a empresa, "no momento da operação realizada hoje, o Banco Rendimento já não prestava mais os serviços mencionados para a T10 Bank. O Banco Rendimento está colaborando com as investigações".

A Inove Global Group (I9Pay) e seu sócio Patrick Bezerra Burnett negaram, em nota, envolvimento com crimes e irregularidades.

"A empresa e seu sócio, em sua atuação estritamente lícita e ética, não se confundem com a conduta de terceiros e jamais poderiam ser relacionados com qualquer atividade criminosa. Comprometidos com princípios éticos, o Inove Global Group e seu sócio, Patrick Burnett, atuam no ramo da tecnologia há mais de sete anos, buscando trazer inovação e acessibilidade para seus clientes e traçando uma ilibada reputação perante o mercado."

Na nota, o investigado informou que vai colaborar. "Por fim, tanto a empresa, como Patrick, estão à disposição das autoridades para colaborar com o deslinde das investigações, a fim de que os fatos sejam esclarecidos em sua integralidade."

Os advogados do Inove Global Group informaram que não tiveram acesso integral ao conteúdo da investigação. A empresa negou "veementemente ter relação com os fatos mencionados pelas autoridades policiais e veiculados pela imprensa".

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