Denúncias de exploração infantil na internet crescem e especialistas alertam para vigilância dos pais
Casos de abuso e conteúdos inapropriados contra crianças aumentam na rede e reforçam necessidade de ação das famílias e autoridades

Simone Queiroz
Thiago Dell'Orti
Adultização, sexualização e exposição de crianças a conteúdos inapropriados são temas que deveriam estar há muito tempo no radar de famílias, escolas e autoridades. Só agora, no entanto, começam a ganhar a atenção necessária.
Após a divulgação de um vídeo pelo youtuber Felca, em apenas seis dias, a SaferNet — organização dedicada à defesa dos direitos humanos na internet — registrou um aumento de 114% no número de denúncias de exploração e abuso sexual em comparação com o mesmo período do ano passado.
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Segundo especialistas, não basta apenas se indignar ou ter coragem de denunciar. Falta compreensão do que é inadequado e criminoso na rede. Deixar crianças e adolescentes sem supervisão na internet é comparado a deixá-los sozinhos em uma rua cheia de perigos.
Para proteger os menores, cada setor tem sua responsabilidade. A Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente defende a realização de campanhas educativas e cobra do governo e do Congresso a regulamentação das atividades das grandes empresas de tecnologia.
“O governo precisa entender seu papel nesse processo de regulamentar, propor instrumentos legislativos que possam ser aplicados nesses ambientes e trazer normas para isso”, afirma Michelly Antunes, líder de programas e projetos sociais da Fundação Abrinq.
No ambiente familiar, existem alternativas práticas. Ferramentas permitem que os pais limitem sites, aplicativos e tempo de uso de celulares e computadores. Algumas plataformas oferecem recursos que espelham o conteúdo no dispositivo dos responsáveis, que podem monitorar mensagens, novos contatos e fotos recebidas ou enviadas. Parte dessas ferramentas é paga, mas também há opções gratuitas fornecidas pelas próprias redes sociais.
Outro ponto importante é a criação de contas com a idade correta da criança ou adolescente. Dessa forma, algumas redes ativam automaticamente recursos de segurança, como filtros de busca, monitoramento de atividades e restrição de conteúdos inadequados.
Mas só limitar acessos é suficiente? Para Andréa Ometto Ferraz Haddad, pedagoga e mãe de três meninos, o segredo está no diálogo aliado ao acompanhamento constante. “O combinado foi: os pais têm total acesso para verificar quando quiser. Nós também usamos aplicativos que mostram quanto tempo e quais redes sociais eles acessaram. Por exemplo: hoje ele usou 18 minutos no Instagram e 10 minutos no YouTube”, conta.