Criminosos burlam proibição e usam arsênio em casos de envenenamento
Mortes recentes reacendem alerta para venda ilegal de compostos de arsênio pela internet
Nathalia Fruet
Leonardo Ferreira
Criminosos estão conseguindo burlar a proibição e comprar, de forma ilegal, compostos de arsênio. A falta de controle gerou casos de envenenamento que chocaram o país nos últimos meses.
O arsênico, substância que tem como base o arsênio, é usado na mineração, pela indústria de metais e couros e até no tratamento de alguns tipos de câncer. Ele também faz parte da agricultura e, por isso, está presente em alguns alimentos — mas em quantidade mínima.
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Segundo o químico Marcos Makoto Toyama, a dosagem de 70 miligramas por quilograma corporal já é suficiente para provocar a morte. Foi o que aconteceu nos últimos meses, quando compostos de arsênio viraram caso de polícia.
No Rio Grande do Sul, em dezembro de 2024, uma família inteira foi hospitalizada depois de comer um bolo. Três pessoas morreram. A suspeita é Deise Moura dos Anjos, nora de uma das vítimas. Deise foi presa e, dias depois, encontrada morta na cela.
Seis meses depois, um caso parecido ocorreu em Itapecerica da Serra, em São Paulo. Dessa vez, uma adolescente morreu e outra precisou ser hospitalizada depois de consumirem bolos de pote enviados por uma colega de 17 anos. A jovem confessou que envenenou o alimento porque tinha ciúmes das vítimas. Em comum, os dois casos têm o uso da mesma substância: o óxido de arsênio.
Venda proibida e controle
A venda de compostos de arsênio foi proibida ao público em 2005. Atualmente, a aquisição do produto só é permitida para empresas e mediante um registro detalhado com o motivo da compra e as condições de uso. No entanto, a venda online dificulta o controle e acaba facilitando a compra da substância de forma ilegal. Foi exatamente assim que a adolescente de Itapecerica da Serra conseguiu o produto.
Em nota, o Conselho Federal de Química, que monitora as empresas autorizadas a comprar arsênio, disse que vem intensificando as fiscalizações e trabalhando junto aos conselhos regionais para identificar a origem e coibir o comércio ilegal do produto.
O composto, que é branco, sem cheiro e tem um aspecto parecido com farinha, pode ser facilmente misturado em alimentos. Os sintomas iniciais de intoxicação aguda por arsênio começam até duas horas após a ingestão do alimento. Incluem vômitos, tremores, dores abdominais e diarreia — na maioria das vezes, com sangramento.
Apesar de aparentar ser um crime de difícil solução, a médica legista Caroline Daitx afirma que os sinais de envenenamento são fáceis de identificar. “Nos casos de exumação, que o corpo já está degradado, fica um pouco mais restrito, mas ainda assim é possível identificar. É muito difícil não conseguir detectar uma substância e também não existe o crime perfeito”, destaca.