Chico Buarque, 80 anos: veja 8 curiosidades sobre o artista
Artista já teve composição como tema de novela do SBT, criou time de futebol e quase perdeu um de seus principais discos por erro técnico
O cantor, compositor e escritor Chico Buarque comemora 80 anos nesta quarta-feira (19). Com 58 anos de carreira, 50 discos gravados, 537 canções e cinco livros lançados, é um dos principais expoentes da cultura brasileira e um dos que mais sabem trabalhar com a palavra: daí vem sua principal matéria-prima para as composições e obras literárias, que renderam prêmios importantes como o Jabuti e o Oceanos.
"A imaginação é sofisticadíssima, mas Chico é uma pessoa simples, de hábitos simples e poucas exigências no cotidiano", trecho do livro 'Chico para todos', da jornalista Regina Zappa.
Em suas obras, principalmente no período da ditadura militar, Chico consegue unir o erudito ao popular. A canção "Construção" é um dos exemplos dessa junção. Na música, a terceira mais ouvida do artista no Spotify, com mais de 39 milhões de streams na plataforma, utiliza técnicas de poesia, como o verso dodecassílabo (doze sílabas métricas, um dos versos mais longos de um poema), e apenas dois acordes acompanhados de uma orquestra com 60 músicos, liderada pelo maestro Rogério Duprat, arranjador do álbum.
A canção, inclusive, quase não foi lançada por um deslize técnico de Roberto Menescal (veja detalhes abaixo) e representou um sucesso de vendas de LPs na época.
"O disco 'Construção' criou problemas industriais nunca antes vividos pela Philips. A demanda de 10 mil discos por dia, nas primeiras semanas, levou a fábrica a contratar duas gravadoras concorrentes para prensá-los, obrigou o pessoal a trabalhar em turnos de 24 horas por dia e o futebol de sábado, rotina de vários anos dos empregados e artistas, ficou suspenso durante quase dois meses. Também, nunca antes a Philips tinha vendido tantos LPs em tão pouco tempo (140 mil nas primeiras quatro semanas).", escreveu o jornalista José Hamilton Ribeiro, em reportagem publicada na revista Realidade em 1972.
Confira oito curiosidades do artista:
Sobrinho do criador de um dos principais dicionários brasileiros
Seu apreço pelas palavras vem de sangue: Chico nasceu em uma família de intelectuais brasileiros. Seu tio é o lexicógrafo e membro imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Reconheceu o nome? Ele criou o Dicionário Aurélio. Além disso, o artista é filho do historiador Sergio Buarque de Holanda, autor de "Raízes do Brasil", livro que ajudou a entender o Brasil após o processo de colonização.
Criou um time de futebol
Além de ser fascinado pela prática do esporte e fazer composições para seus ídolos dos campos, como em "O futebol", que homenageia alguns deles (Pelé, Mané, Didi, Pagão, e Canhoteiro), criou um time para disputar as peladas com seus amigos, o Politheama.
A palavra grega significa "Muitos Espetáculos" – “poli” significa muitos e "theama", espetáculo – e, inclusive, tem um hino composto pelo próprio Chico.
"Politheama, Politheama O povo clama por você Politheama, Politheama Cultiva a fama de não perder."
Teve músicas em novela do SBT sobre a ditadura militar
Entre 2011 e 2012, o SBT exibiu a telenovela Amor e Revolução. Seu foco narrativo era o período da ditadura militar e suas consequências para o Brasil de hoje, com depoimentos de pessoas que viveram os chamados "anos de chumbo".
Com isso, três músicas do compositor foram escolhidas para compor a trilha sonora do folhetim. O tema de abertura ficou com Roda-Viva, interpretada pelo grupo MPB4. Durante os episódios eram exibidas Apesar de Você (a mais ouvida do artista no Spotify) e O Que Será? (À Flor da Terra) - com participação de Milton Nascimento.
Quase perdeu um de seus principais discos por erro técnico
Em entrevista à BBC, Roberto Menescal, diretor de produção do álbum "Construção", lançado em 1972, disse que quase perdeu as gravações do álbum, feitas com a participação de uma orquestra de 60 músicos liderada por Duprat, por apertar um "botão errado" na mesa de som de quatro canais, novidade na época.
"Nessa de apertar botão desconhecido, um auxiliar de estúdio deletou toda a gravação da orquestra do Duprat. Eu não sabia o que fazer. Por um momento achei que o disco não fosse sair", contou Menescal.
Após descobrir que não havia como recuperar o áudio excluído, ele reuniu todos os músicos para executar a mesma gravação novamente.
Jogou futebol com Bob Marley
Em 1980, Bob Marley veio ao Brasil. Não para fazer shows, nem gravar um novo álbum: foi convidado a participar da festa de lançamento da gravadora Ariola (ele pertencia ao Island Records, que fazia parte da gravadora) no Brasil. Além disso, ele tinha uma paixão em comum com Chico: o futebol. O "Rei do Reggae" também era torcedor do Santos e fã de Pelé.
Marley jogou futebol com Chico no Centro Recreativo Vinícius de Moraes, onde o time Politheama realiza suas partidas. Na ocasião, o artista jamaicano jogou com Paulo Cézar Caju, companheiro de Pelé na seleção brasileira, além de Alceu Valença, Toquinho e Moraes Moreira.
Compôs sua primeira música aos 15 anos
Em 1959, aos 15 anos, Chico Buarque fez sua primeira composição: Canção dos Olhos, já escrevendo sobre o amor, tema de grande parte de suas canções que seriam lançadas nos anos subsequentes.
Capa do disco que virou meme
A capa do do álbum de estreia de Chico Buarque, intitulado Chico Buarque de Hollanda, mostra lado a lado o compositor, na época com 22 anos, sério e sorrindo. A imagem virou meme, com as mais variadas legendas. O próprio músico aderiu à brincadeira ao inaugurar seu perfil no Instagram, em julho de 2017, e explicou a história da capa.
"Na época, eu queria me impor como um compositor sério e tal, e eles [a gravadora] achavam que eu ficava mais bonito quando sorria. Então tiramos várias fotos, sorrindo e tal. Fui ver a capa já pronta (...) Assim, eles fizeram a vontade deles e a minha com essa capa absurda que virou meme. Toda vez que eu vejo, mesmo sem ser meme, digo 'que absurdo isso'", afirmou Chico.
Descobriu que tinha um irmão na Alemanha e escreveu um livro
Em 2013, Chico Buarque lança o livro "O Irmão Alemão". A obra, que é o quinto romance de Chico, mistura ficção e realidade: o ponto de partida da narrativa vem após Chico descobrir que teve um meio-irmão, fruto do relacionamento de seu pai, Sérgio Buarque de Holanda, com uma alemã. Ele viveu no país entre 1929 e 1930, como correspondente do O Jornal.
A descoberta aconteceu a pedido da editora Companhia das Letras. O historiador brasileiro João Klug e o museólogo alemão Dieter Lange identificaram Sergio Günther, que faleceu em 1981 de câncer de pulmão. Os dois não chegaram a se conhecer.
"Pelas informações que a gente teve, ele era o homem da TV. Ele apresentava, por exemplo, um programa intitulado Berlin bleibt Berlin [Berlim permanece Berlim], no qual saía pelos bairros fazendo entrevistas, com o objetivo de mostrar como tudo funcionava bem e harmonicamente na RDA.", disse Kluga à Deutsche Welle.
Buscas pelo artista aumentaram no Google pelo aniversário
O interesse de busca por Chico Buarque aumentou no Google devido ao seu aniversário com base nos últimos 30 dias. Os dados são do Google Trends.