Caso Marielle: "Sempre vai ter a primeira vez sem Anderson", diz viúva do motorista
Agatha Arnaus foi a quarta a depor no júri de Lessa e Queiroz. Ela é a viúva do motorista assassinado junto com a vereadora
A viúva de Anderson Gomes, Agatha Arnaus Reis, foi a quarta a depor no julgamento dos assassinos confessos da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista, na tarde desta quarta-feira (30), no 4º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro.
Antes dela, falaram a viúva de Marielle, Mônica Benício, a mãe da vereadora, Marinete Silva, e Fernanda Chaves, a única sobrevivente do atentado e assessora da parlamentar.
Agatha falou sobre o filho, Arthur, e a falta do marido na criação do menino, que tinha 1 ano e 8 meses quando Anderson morreu. A criança nasceu com onfalocele e tem pelo menos cinco alterações genéticas. "Por ele não falar, eu não sei se ele tem total compreensão do que aconteceu", disse ela.
"(O Arthur) Estava vivendo com uma mãe que estava destruída", contou a viúva, ao falar sobre os primeiros meses após o assassinato do motorista. O menino, agora com 8 anos, é acompanhado por uma série de médicos, precisa de fisioterapia e tratamento com fonoaudióloga, além de ter outras condições que necessitam de cirurgias.
"O pior momento que eu vivi com meu filho foi seis meses depois da morte do Anderson. O Arthur precisou passar por uma cirurgia e eu estava sozinha com ele. Foi a primeira vez que eu estava sem o Anderson em um hospital com meu filho. Os médicos falavam para eu me preparar, porque a situação era frágil. O Anderson era a pessoa que sempre dizia que tudo ia dar certo. Eu achei que fosse perder a família que eu construí, eu não ia aguentar", lembrou.
Agatha também falou sobre a falta que o marido faz em sua vida e na vida do filho e como, em alguns momentos, se apressou para viver a dor do luto.
"Meu pai me falou uma vez que a partir daquele momento, muitas coisas que eu fizesse seriam as primeiras sem o Anderson. E nos primeiros anos eu me apressei para fazer todas essas coisas para passar logo aquela dor o mais rápido possível. Só que não passa. Não vai passar nunca. Sempre vai ter uma coisa que é a primeira vez sem o Anderson. A primeira vez que o Arthur andou, que ele falou mamãe, que ele foi para uma escola nova", disse chorando.
Um vídeo dela contando da gravidez para o motorista foi exibido para os jurados. Agatha afirmou que o marido teve uma doença, anos antes, e não sabia se poderia ter filhos. Emocionada, ela disse que esse foi o dia em que viu o marido mais feliz. "Eu não lembro de outro dia que eu tenha visto o Anderson assim, tão feliz", contou.
Perguntada sobre o que espera do julgamento, ela afirmou que espera ver os assassinos "pagarem pelo que fizeram".