Aviões adaptados e submarinos piratas: o esquema de envio de cocaína a cartéis do México
Traficante alvo de operação da Polícia Federal atuaria no Brasil para PCC, Comando Vermelho e cartéis mexicanos traficando por mar e ar
Aeronaves adulteradas, falsos registros de voos e submarinos clandestinos. O esquema de tráfico internacional de cocaína para o México e outros países, alvo da Polícia Federal (PF) na última semana, usava o mar e o ar para abastecer cartéis mexicanos, como os de Sinaloa e o Los Zetas, passando pelo Brasil.
A PF deflagrou na última semana a Operação Terra Fértil, contra um esquema para lavagem de pelo menos R$ 5,5 bilhões do tráfico internacional de drogas.
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'O alvo central, um velho conhecido da PF, o narcotraficante Ronald Roland, é acusado de ter ligação com o PCC, os cartéis da Bolívia, Colômbia e Peru – produtores tradicionais da cocaína –, e da Venezuela, e com os cartéis mexicanos, como o de Sinaloa e os Los Zetas – compradores da droga transportada.
Em 2015, Roland foi alvo da Operação Dona Bárbara, por tráfico ligado às Farcs (grupo paramilitar da Colômbia), e em 2019, da Operação Flak, pelo esquema de remessa dos tabletes de cocaína pura, via Brasil e Venezuela, para o México, Estados Unidos, Europa e África.
O SBT News teve acesso a documentos das investigações da PF de Tocantins, que desmontou uma das rotas usadas pelos acusados na Operação Flak.
Além dos jatos particulares e aeronaves de pequeno portes adulteradas, para carregar droga e ter maior capacidade de voo, o esquema usava também submarinos piratas – a maioria produzida no Suriname.
O grupo tinha compradores e transportadores, os contatos com os cartéis produtores e os compradores, equipes de mecânicos e pilotos especializados nas adulterações e que se arriscavam nas rotas clandestinas.
Os alvos faziam o transporte pelo Brasil e tinham contatos com o PCC e com o Comando Vermelho, do Rio – as duas maiores facções brasileiras que atuam no tráfico internacional de drogas e armas. Um dos cabeças era o traficante João Rocha Soares, conhecido como Nestor ou Bigode, preso em Tucumã, no Pará. Ele era ligado a Luiz Carlos Rocha, o Cabeça Branca, outro narcotraficante reconhecido.
Na Operação Flak, 47 aviões do tráfico foram apreendidos. Segundo a PF, em dois anos, quase 10 toneladas de cocaína (equivalente a 10 mil quilos da droga) foram transportados, para os três continentes: América Central e Norte, África e Europa.
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Com aviões, a cocaína era buscada na Colômbia, Bolívia e na Venezuela e trazida para o Brasil. Goiás e outros estados eram entrepostos. Em 2017, uma aeronave com droga ligada a Roland foi apreendida em Rio Verde (GO). Depois disso, a droga era levada para o Suriname, Equador ou para costa marítima brasileira e despachada pelo oceano. Em 2018, um submarino do grupo foi apreendido no Suriname.
Na Terra Fértil, deflagrada na terça-feira (2), foram presas 9 pessoas. Policiais fizeram buscas e apreensões em 80 endereços dos alvos, em sete estados: Bahia, Minas Gerais, Goiás, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. As ordens foram da 3ª Vara Federal Criminal de Belo Horizonte.
A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Ronald Roland. Nos processos, ele os nega crimes. O espaço está aberto para manifestação da defesa.