Apesar de serem maioria, mulheres negras recebem 16% do total de renda, aponta relatório
Dado está presente no mais recente relatório do PNUD, que analisa cenário pós-pandemia de covid-19
Samir Mello
Apesar de comporem a maior parcela populacional (28,5%), as mulheres negras respondem por apenas 16% do total de rendimentos. É o que aponta o mais novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), lançado nesta terça-feira (28).
Intitulado "Construir caminhos, pactuando novos horizontes", o estudo avalia o cenário de antes e depois da pandemia de covid-19. Entre as conclusões, aponta que o coronavírus demonstrou que, nos países com padrões de desenvolvimento desiguais, como o Brasil, "as crises serão ainda mais graves e, portanto, o debate sobre como a equidade contribui para o progresso das sociedades é crucial no caminho em direção a uma sociedade pacífica e deve redefinir as prioridades políticas dos países".
Aprofundando os dados sobre a desigualdade existente no Brasil atualmente, enquanto mulheres negras respondem por 16% do total de rendimentos, homens negros recebem 24,1%; as mulheres brancas, 24,7%; e os homens brancos, 35,1% (em 2021).
O relatório destaca que, além de questões relativas à renda, outros desafios enfrentados por mulheres negras no Brasil são menores possibilidades de estudo, participação precoce no mercado de trabalho, maior exposição à violência e menor longevidade: "Fatores que reforçam a vulnerabilidade e dificultam a mobilidade social por muitas gerações".
"No Brasil, desafiar as normas sociais que carregam preconceitos de raça e gênero é uma escolha que se impõe. Para impulsionar a mudança em direção a uma maior igualdade para as mulheres negras, é necessário expandir o desenvolvimento humano por meio de investimentos, garantias e inovação. Educação, reconhecimento e representação adequada podem impulsionar os processos de inclusão e combater diretamente as normas sociais, de raça e gênero, discriminatórias", diz estudo.
Como solução, o documento afirma que é crucial investir em educação, o que, ao longo do tempo, apontará para mais capacitação para o mundo do trabalho, aumento nos rendimentos e maior distribuição de renda.
"São os avanços nas capacidades avançadas que determinarão se os países e as pessoas serão capazes de tirar partido das oportunidades do século 21, de se ajustar à economia do conhecimento e de lidar com crises e choques", aponta.
Pandemia
Entre outras questões analisadas pelo relatório relacionadas à pandemia de Covid-19, o PNUD fez uma análise comparativa, observando que, se os estados brasileiros fossem países, seriam 12 dos primeiros 20 com as mais elevadas taxas de mortalidade pela doença.
O relatório ainda verificou que, entre as 10 mais altas taxas de mortalidade (por 100 mil habitantes) nos países pesquisados, em 2021, quatro seriam de estados brasileiros: Rio de Janeiro (402,4), Mato Grosso (396), Rondônia (378,9) e Distrito Federal (368,4).