Disparos de arma de fogo mataram 4 vezes mais negros que brancos em dez anos no Brasil
Pesquisa do IESP aponta que tiros mataram mulheres negras foram 145% maior que as brancas
Em uma década, disparos de arma de fogo mataram quatro vezes mais homens negros (pretos e pardos) que brancos em vias públicas do Brasil.
Entre 2012 a 2022, o país registrou 187.938 assassinatos. Das vítimas, 149 mil eram negras e 38 mil, brancas. Isso significa que, a cada dez homens mortos por disparo de arma de fogo, oito eram negros.
Essa é conclusão do Boletim Saúde da População Negra, uma pesquisa do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IESP) e do Instituto Çarê, divulgado nesta segunda-feira (27).
Na visão do pesquisador Rony Coelho, do IESP e integrante da Çarê, os pretos e pardos não estão sujeitos apenas à violência policial, mas também a outros tipos de violência, uma vez que os piores indicadores sociais prevalecem para a população negra.
"Os determinantes sociais da saúde são as condições sociais, econômicas, ambientais e culturais em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem. São considerados determinantes sociais sexo, local de trabalho, local de moradia e, inclusive, raça e etnia. A população negra é a principal vítima porque está sujeita a uma série de intersecções desses fatores em suas piores condições", explica Rony Coelho.
Além disso, em dez anos, o Boletim identificou que o número de internações hospitalares por agressão – seja pela violência física, com objetos perfurantes ou por tiro – em que as vítimas foram homens negros foi 137% maior que as hospitalizações de brancos.
No total, o Brasil internou por agressão 566 mil pessoas, sendo 250 mil negros, 105 mil brancos e outras 209 mil em que não houve a identificação racial.
Violência contra a mulher
O cenário de violência que atinge as mulheres negras também é preocupante. Segundo a pesquisa, o número de mortes por disparo de fogo de mulheres negras foi 145% maior, em comparação com o de mulheres brancas. No total, o país registrou quase 20 mil assassinatos, sendo vítimas 5,5 mil brancas e 14 mil negras.
Já em casos em que houve a necessidade de internação por agressão, o número de mulheres negras hospitalizadas foi mais que o dobro em comparação com as brancas.
Em dez anos, foram 23 mil hospitalizações, sendo 16 mil mulheres negras atingidas e 7 mil mulheres brancas.
Metodologia
O Instituto de Estudos para Políticas de Saúde e o Instituto Carê realizaram o estudo por meio de dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH), cruzando dados disponíveis sobre agressões com faixa etária, sexo, raça/cor e o local e horário da ocorrência.
Caminhos para reduzir as desigualdades
Para o pesquisador, um caminho para reduzir os índices de desigualdade seria por meio de políticas afirmativas que já existem e que precisam ser intensificadas.
"A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, que foi criada há 15 anos e até o momento teve baixa adesão de suas diretrizes nos municípios, visa a uma série de ações para chamar a atenção e lidar com as diferenças raciais na saúde. Outro exemplo é o recém-lançado programa Juventude Viva, do Ministério da Igualdade Racial", aponta Rony Coelho.