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50 anos depois: USP entrega diplomas de estudantes mortos pela ditadura

Alexandre Vannuchi e Ronaldo Queiroz eram alunos de Geologia quando foram assassinados em 1973

50 anos depois: USP entrega diplomas de estudantes mortos pela ditadura
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Cinquenta anos de espera para a conclusão do curso de Geologia da Universidade de São Paulo, a USP. Esse foi o tempo que os estudantes Alexandre Vannuchi Leme e Ronaldo Mouth Queiroz foram obrigados a esperar para serem finalmente diplomados. Assassinados por agentes da ditadura militar, em 1973, os dois recebem diplomas póstumos, entregues nas mãos de seus familiares ou de representantes, em uma sessão solene nesta 6ª feira (15.dez), no Instituto de Geociência.

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"Os dois eram estudantes, muito daquele anseio, do sonho de ser geólogo, de ter o diploma e a profissão de geólogo também foi ceifado junto com a vida deles", diz Camilo Vannuchi, jornalista e primo de segundo grau de Alexandre.

Para ele, a homenagem aos dois estudantes, tantos anos após serem mortos pela repressão, é um gesto de reparação. Alexandre já estava no último ano da graduação quando foi morto. Se vivo, ainda em 1973 sairia da universidade formado.

"É interessante essa reparação também, a ideia de que ele teria esse diploma se não vivêssemos numa ditadura truculenta, em que estudantes com posicionamento político poderiam ser assassinados", completa o primo.

O diretor do Núcleo de Preservação da Memória Política, Maurice Politi, concorda. "Dar o diploma aos dois, como homenagem póstuma, é um gesto de reparação que a sociedade brasileira ainda deve a quem lutou por ideais democráticos na resistência ativa a um regime ilegal e ilegítimo", afirma.

A ideia, agora, é que outros estudantes da USP, também vítimas da ditadura, possam receber a mesma homenagem. São pelo menos 30, segundo Camilo Vannuchi.

+ Apátrida: jovem foi expulso do Brasil durante ditadura

Quem são os homenageados?

Ronaldo Queiroz era estudante de Geologia da USP e presidiu o Diretório Central dos Estudantes (DCE) entre 1970 e 1971. Integrante da Ação Libertadora Nacional (ALN), ele abandonou o curso após sofrer perseguição política. Ronaldo foi um dos responsáveis por continuar com o movimento estudantil durante a repressão. 

Alexandre assumiu a presidência em seguida e também foi militante da ALN à época da prisão. O assassinato do jovem virou um símbolo da luta pela liberdade. O então cardeal de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, tomou a frente e realizou uma missa em homenagem ao estudante na Catedral da Sé, sendo uma das primeiras ações públicas que desafiou as autoridades militares. Em 1976, o DCE da USP passou a levar o seu nome.

Funeral de Alexandre Vannuchi, em Sorocaba (SP), em 1973 | Arquivo Pessoal

Como os estudantes morreram?

Alexandre Vannuchi foi sequestrado e levado para o Destacamento de Operações de Informação - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), um dos principais locais de tortura da ditadura, no dia 16 de março de 1973. Ele havia realizado uma cirurgia de retirada de apêndice dois meses antes do sequestro. Por dois dias, o corte - ainda não cicatrizado - foi manipulado pelos agentes como forma de tortura. Quem conviveu nas celas da detenção ao lado do estudante conta que o jovem teria sofrido uma hemorragia interna durante o tempo que ficou preso.

Até 2012, a versão oficial para a morte de Alexandre era de que ele havia sido atropelado. Antes, os agentes chegaram a afirmar que ele tinha se suicidado dentro da enfermaria do DOI-Codi, mas depoimentos de presos políticos fizeram a história cair por terra.

Foi só durante a Comissão Nacional da Verdade que um ex-servidor do centro de tortura admitiu que o estudante de geologia foi morto nas dependências do órgão da repressão. Sua certidão de óbito, que tinha como causa da morte "lesão traumática crânio-encefálica causada por atropelamento", passou a atestar em 2013 que ele foi morto por "lesões decorrentes de torturas e maus-tratos sofridos quando estava nas dependências do DOI-Codi".

Ronaldo Queiroz estava em um ponto de ônibus, no dia 6 de abril daquele mesmo ano, na região central de São Paulo. Três agentes do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) desceram armados de uma perua veraneio e um deles disse: "É esse, é esse". Ronaldo sofreu dois disparos à queima-roupa e não resistiu.

Depois, um dos policiais colocou um revólver na mão do estudante, outro na cintura e uma pequena agenda em seu bolso, para simular um tiroteio. Esse foi o depoimento de Paulo Antônio, uma das testemunhas do crime, à Comissão Estadual da Verdade, em 2013.

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