FALSO: Lula depositou flores no Museu do Holocausto, ao contrário do que alega vídeo
Confira a verificação realizada pelos jornalistas integrantes do Projeto Comprova
Projeto Comprova
FALSO: É falso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha se recusado a levar flores ao Museu do Holocausto, em Jerusalém, durante visita a Israel em 2010. Reportagens, fotos e vídeos da época mostram o petista depositando uma coroa de flores no chão do Salão da Memória, onde estão gravados os nomes dos principais campos de concentração nazistas.
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Conteúdo investigado: Vídeo em que um homem com sotaque estrangeiro afirma que Lula se recusou a deixar flores em visita oficial ao Museu do Holocausto, em Jerusalém. O homem também diz que o presidente levou flores ao túmulo do ex-chefe da Autoridade Nacional Palestina (ANP) Yasser Arafat. Sobre o vídeo estão imagens da bandeira de Israel e a inscrição: "e agora Lula é fake diz aí p povo?? (sic)".
Onde foi publicado: TikTok.
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Conclusão do Comprova: É falso que Lula tenha se recusado a levar flores ao Museu do Holocausto, em Jerusalém, como sugere um homem em vídeo compartilhado nas redes sociais. Em 16 de março de 2010, durante viagem presidencial a Israel, o presidente visitou o local e depositou uma coroa de flores com as cores do Brasil no chão do Salão da Memória, espaço onde estão gravados os nomes dos 22 campos de concentração e extermínio nazistas.
Lula também participou de duas cerimônias: acendeu uma chama em memória dos seis milhões de judeus mortos pelo regime nazista , para "reavivar a chama eterna", e plantou uma muda de oliveira no bosque de Jerusalém, ação simbólica que representa a continuidade da vida e a crença divina. Foi a primeira visita de um chefe de Estado brasileiro a Israel, repetida em 2019 por Jair Bolsonaro (PL).
Além da alegação de não ter depositado flores no Museu do Holocausto, a pessoa no vídeo ainda afirma que Lula colocou flores no túmulo do líder palestino Yasser Arafat, morto em 2004. Essa afirmação é correta. De fato, o presidente foi a Ramallah, na Cisjordânia, visitar o mausoléu do ex-chefe da Autoridade Nacional Palestina (ANP) no dia seguinte à visita a Israel.
Falso: Conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 18 de outubro, a publicação no TikTok contava com 1,1 milhão de visualizações, 52,9 mil curtidas e 2.095 comentários.
Como verificamos: Em primeiro lugar, buscamos no Google pelas palavras-chave "Lula Museu do Holocausto", encontrando uma série de verificações feitas por agências de checagem nos primeiros links de busca (UOL Confere, Boatos.org, Aos Fatos, Estadão Verifica, Lupa). Também encontramos, na mesma pesquisa, uma reportagem da antiga TV Nacional do Brasil publicada no canal oficial do governo no YouTube e matérias jornalísticas relatando a visita (g1, Jornal da Record, Folha, Efe e GaúchaZH).
Em seguida, buscamos por registros oficiais da viagem, encontrando fotografias na biblioteca da Presidência. Também tentamos entrar em contato com o autor da postagem. O Comprova ainda procurou pelo vídeo original, por meio da ferramenta de busca por imagens do Google, Yandex e TinEye, mas só encontrou o mesmo conteúdo publicado em diferentes contas do TikTok.
Lula depositou flores no Museu do Holocausto
Lula visitou o Museu do Holocausto em 16 de março de 2010, no segundo dia de sua viagem oficial a Israel. Na ocasião, o presidente compareceu ao local acompanhado da então primeira-dama, Marisa Letícia, e do então presidente israelense, Shimon Peres, ambos já falecidos.
A visita durou cerca de uma hora. É possível ver a entrega das flores nesta reportagem da TV Nacional do Brasil ? que mais tarde se fundiu com a TV Brasil ? publicada pelo canal oficial do governo federal.
A biblioteca da Presidência da República disponibilizou fotos da visita de Lula a Israel. Uma delas mostra o momento do depósito da coroa:
Reportagens do G1, da Folha de S.Paulo e de O Globo da época também repercutiram a visita. Na saída do local, Lula disse que conhecer o Museu do Holocausto e depositar flores era uma atitude "quase obrigatória a todo ser humano que quer governar uma nação", segundo a BBC Brasil. O presidente ainda enfatizou: "A humanidade deve repetir todos os dias, quantas vezes for necessário, ?nunca mais?, ?nunca mais?, ?nunca mais'".
O roteiro é feito tradicionalmente pelos chefes de Estado que viajam a Israel, mas Lula foi o primeiro presidente brasileiro a realizar essa visita. Em 2019, o então presidente Bolsonaro (PL) viajou ao país e também participou das cerimônias.
Presidente também levou flores ao túmulo de Yasser Arafat
No vídeo que circula no TikTok, o homem diz que Lula teria deixado flores no túmulo do líder palestino Yasser Arafat, morto em 2004. Essa afirmação é verdadeira. No dia seguinte à viagem a Israel, o presidente desembarcou em Ramallah onde visitou o mausoléu do ex-chefe da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e depositou uma coroa de flores no local. Durante a passagem pela Cisjordânia, Lula também se encontrou com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. As fotos da viagem, incluindo da visita ao túmulo de Arafat, estão disponíveis aqui.
À época, a Agência Brasil relatou que setores da sociedade israelense teriam ficado descontentes com o cancelamento da visita da comitiva brasileira ao túmulo de Theodor Herzl, fundador do sionismo ? movimento que defende a existência de um Estado judeu e que levou à criação de Israel. Segundo a delegação brasileira, a não aceitação a esse evento foi por não ser comum e recorrente em viagens oficiais de chefes de Estado.
O que diz o responsável pela publicação: O TikTok não permite o envio de mensagens entre usuários que não se seguem mutuamente e, por isso, não foi possível contatar o autor da publicação. Tentamos buscar pelo perfil @mouraoliveira04 em outras redes sociais, mas não encontramos equivalência.
O que podemos aprender com esta verificação: Uma tática empregada por pessoas que costumam espalhar desinformação é o uso de vídeos em que não há identificação ou elementos que ajudem a reconhecer o autor das falas que estão repercutindo. Neste caso, o sotaque estrangeiro do homem que faz as acusações pode levar o espectador a crer que ele seja habitante da região e, consequentemente, tenha autoridade sobre o tema. Além disso, o conteúdo desinformativo foi compartilhado em um momento sensível, de acirramento de conflitos, o que é outra tática comum. Ao se deparar com publicações desse tipo, é importante consultar órgãos oficiais ou veículos de comunicação de sua confiança. Às vezes, uma simples busca pode sanar dúvidas sobre a veracidade do conteúdo.
Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: A verificação do conteúdo analisado também foi feita pelo UOL Confere. Outras publicações com a mesma alegação foram verificadas em outubro de 2023 pela Reuters e pela AFP. Além disso, em 2022, Aos Fatos, boatos.org, Estadão Verifica e Lupa também verificaram peças com a mesma temática.
Peças de desinformação envolvendo o nome do presidente Lula são comuns e já foram verificadas pelo Comprova. Recentemente, a iniciativa mostrou que o Brasil doou R$ 25 milhões à Autoridade Palestina para ajuda humanitária, e não ao Hamas, que vídeo não mostra Putin criticando Lula após encontro com Zelensky, que Lula não estava bêbado nem agarrou apoiadora como alegam publicações que usam vídeo manipulado e que vídeo de projeção em prédio de Nova York com frase de apoio a Lula é de 2022.
Investigação e verificação
Nexo e Metrópoles participaram desta investigação e a sua verificação, pelo processo de crosscheck, foi realizada pelos veículos Poder 360, NSC, A Gazeta, Correio do Estado, Estadão, SBT e SBT News.
Projeto Comprova
Esta reportagem foi elaborada por jornalistas do Projeto Comprova, grupo formado por 41 veículos de imprensa brasileiros, para combater a desinformação. Iniciado em 2018, o Comprova monitorou e desmentiu boatos e rumores relacionados à eleição presidencial. Na quinta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal e eleições, além de continuar investigando boatos sobre a pandemia de covid-19. O SBT e SBT News fazem parte dessa aliança.
Desconfiou da informação recebida? Envie sua denúncia, dúvida ou boato pelo WhatsApp 11 97045 4984.