Casal italiano adota três irmãos do Rio Grande do Sul
Essa foi a primeira adoção internacional neste ano no estado
Mais de 10 mil quilômetros separavam os irmãos Milena, de 13 anos, Raul, de 7, e Maria Eduarda, de 5, dos seus pais, o casal italiano Francesco e Francesca. Para conectar essas vidas, foi criada uma rede composta por magistrados e servidores que atuam na área da Infância e Juventude. A adoção internacional é o último recurso para crianças que estão em abrigos.
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"Dói o coração dizer, mas essa criança que vai pra adoção internacional é porque nenhum brasileiro quis adotá-la", conta Carolina Belotti Junkes, representante no Brasil do organismo italiano Il Mantello - Associazione di Volontariato per la Famiglia e L'adozione (Associação de Voluntários para a Família e Adoção).
Carolina trabalha há 16 anos com adoção internacional e auxiliou Francesco e Francesca na busca dos filhos brasileiros.
O processo
Os três irmãos foram acolhidos em 2020 na Comarca de Butiá, município a 83 quilômetros de Porto Alegre. Na Itália, Francesco e Francesca passaram por um processo de habilitação para adoção. A partir dessa autorização, o casal tinha um ano para localizar o organismo internacional que poderia representá-los. Para Carolina, não é apenas um trabalho. Essa mediação é uma doação de alma.
"Eu me coloco enquanto mãe, enquanto esposa. Meu Deus, né? Quanto desgaste isso. Mas não tem como renunciar a essa missão. Você tá mudando a vida de crianças que chegariam aos 18 anos dentro de uma instituição de acolhimento e que simplesmente diriam pra elas 'você pode seguir sua vida que aqui não tem mais como ficar'", conta.
A aproximação com as crianças brasileiras aconteceu de forma gradual, sempre com mediação dos órgãos envolvidos. Primeiro, o casal italiano criou um álbum de fotos, se apresentando para os irmãos. Depois, candidatos à adoção e adotantes começaram a trocar mensagens pela internet e realizar chamadas de vídeo. Na sequência, vem a etapa da convivência. O encontro presencial dos novos pais com as crianças aconteceu em fevereiro. Os pais adotivos internacionais precisam vir para o Brasil e conviver com as crianças em casa de 30 a 45 dias.
Só depois de todas essas etapas, é que o processo de adoção internacional é concluído. Milena, Raul e Maria Eduarda já estão na Itália com os pais adotivos. A localização no país não foi divulgada a pedido da família, bem como os sobrenomes. As crianças realizaram o sonho de conhecer o mar, estão exercitando o novo idioma, frequentando a escola e curtindo as novidades do novo país.
Adoção internacional segura
O processo de adoção internacional mudou bastante desde a década de 80. No Rio Grande do Sul, de 2020 a maio de 2023, quinze adoções internacionais foram concretizadas. Antes disso, o último processo concluído tinha sido em 2011. A assistente social Graziela Leal, que pertence à Autoridade Central - órgão vinculado ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul que é responsável pelos processos de adoção - explica que o procedimento é seguro e passa por várias etapas de validação.
"A gente ainda tem muita confusão da adoção internacional com o tráfico de crianças, tem aquele medo de mandar a criança para fora do país e nunca mais saber o que aconteceu com ela e não é assim". A assistente social explica que mesmo após a adoção, a criança segue em acompanhamento. "Depois que a criança chega no país de acolhida a gente vai seguir acompanhando ela por dois anos com videochamada. Lá no país ela também recebe acompanhamento de psicólogo e assistente social que são obrigados a mandar relatórios de acompanhamento a cada seis meses, sob pena de aquele país não poder mais fazer adoção internacional com o Brasil. A Convenção de Haia que regra a adoção internacional prevê fluxos extremamente seguros pra poteger essa criança", conclui.
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