Médicos alertam para riscos de gravidez na adolescência
Abandono dos estudos e riscos para a saúde são algumas consequências da gestação precoce
Na Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, que acontece de 1 a 8 de fevereiro, médicos fazem um alerta para os riscos que uma gestação precoce pode trazer à saúde. Hoje, em média, 25 garotas com menos de 18 anos engravidam diariamente no Brasil, o que representa 598 por mês ou quase 18 mil por ano.
Os casos vêm caindo ano a ano mas, mesmo assim, ainda são preocupantes. Dados do Ministério da Saúde mostram que o número de nascidos vivos de gestantes entre 12 e 14 anos no Brasil passou de 28.171 em 2012 para 13.856 em 2022, uma queda de 49,1%. Já entre jovens de 15 a 18 anos a redução foi maior: 52,2%, caindo de 385.589 em 2012 para 201.358 no ano passado.
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Entre as consequências da gravidez na adolescência, segundo especialistas, estão a evasão escolar, com a redução de oportunidades de inserção da jovem no mercado de trabalho, e a limitação na construção de projetos futuros por falta de perspectivas. Há, ainda, riscos para a saúde, como parto prematuro, gravidez gemelar, infecções durante e após o parto, cesariana de urgência ou também abandono do recém-nascido.
"Ao engravidar não se pode abrir mão dos estudos e deixar os sonhos para traz", diz a secretária municipal de Direito Humanos e Cidadania, Soninha Francine, que vivenciou a experiência de ser mãe ainda na adolescência.
"Eu estava no 3º ano do colegial e vi meus planos de vida virarem de cabeça para baixo", conta. "No meu caso eu tinha todas as informações sobre gravidez, ciclo menstrual, métodos preventivos que aprendi na escola e, mesmo assim, achei que relação sexual sem proteção uma vez só não teria problema", explica.
PREVENÇÃO
Soninha afirma que a maioria das pessoas acha que só o conhecimento de métodos preventivos já é suficiente para prevenir gravidez na adolescência, mas há outros fatores muito importantes que precisam ser levados em consideração. Um deles, segundo ela, é achar que os jovens sabem tudo e que não precisa explicar mais nada. "Não é bem assim, basta um pequeno descuido e a gravidez acontece", observa.
Outro ponto a ser considerado é o empoderamento das adolescentes.
"Elas precisam se sentir seguras, com autoridade sobre si para recusar uma relação sem proteção e não ter receio de magoar o parceiro. Tem de dizer não, não quero", ensina a secretária.
A questão de ampliar os horizontes, segundo Soninha, também faz muita diferença no comportamento das adolescentes. "Muitas jovens vivem sem perspectivas de enxergar o futuro porque se espelham em pessoas da família ou da própria vizinhança, pessoas com muitos filhos, e acham que também não terão mais oportunidades de refazer o caminho, que nada vai mudar, e abrem mão dos sonhos", comenta. Ela diz que ter um objetivo de vida e ganhar a própria renda para ajudar a família já faz a adolescente mudar a maneira de se cuidar.
GRÁVIDA DE NOVO
Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo com 4.500 grávidas entre 12 e 19 anos de todo o país apontou que uma em cada cinco meninas que engravida na adolescência volta a repetir uma segunda gestação antes da idade adulta. Um dos principais motivos disso é a falta de perspectivas de futuro, de orientação adequada e, muitas vezes, também por necessidade de a jovem chamar a atenção da família para a presença dela.
Na cidade de São Paulo, dados do Plano Municipal pela Primeira Infância apontam que os distritos mais populosos e com alta vulnerabilidade social, como Brasilândia, Cidade Tiradentes, Grajaú e Jardim Ângela, registram as maiores taxas de gravidez na adolescência. Nestes locais, mais de 15 em cada 100 crianças nascidas vivas são de mães adolescentes.
A redução e prevenção da gravidez na adolescência até 2030 é uma das metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), que instituiu a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência como parte de conscientizar as jovens e famílias sobre as consequências de uma gestação não planejada e quando mais campanhas educativas são lançadas.