Inseticida mais contrabandeado no Brasil é proibido na maior parte do mundo
Contato com a substância pode ser fatal; uso foi proibido no país em 2020
Guilherme Rockett
Proibido na maior parte do mundo, mas cobiçado pelos produtores rurais brasileiros, o Paraquat é o principal inseticida contrabandeado no Brasil. A entrada dele acontece pela Argentina, e o contato com a substância pode ser fatal.
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"Ele é um agrotóxico muito potente, que não tem antídoto. Quando contamina pessoas, acaba causando uma deficiência respiratória aguda, que fatalmente leva a morte", afirma o delegado Heleno dos Santos.
A China é o maior produtor de Paraquat do mundo. O país exporta o químico para diversos países que ainda permitem o uso, mas barra a aplicação e a venda dentro do seu território. O uso do pesticida foi proibido no Brasil em 2020.
"Ele altera o material genético dos óvulos ou dos espermatozoides. O Paraquat também tem risco do desenvolvimento de doença de Parkinson. Quando o produtor opta por comprar um produto que é totalmente fruto de contrabando, ele não só está colocando em risco ele próprio e seus trabalhadores, como também está colocando em risco a população", afirma Daniel Coradi, coordenador de reavaliação de agrotóxicos da Anvisa.
Graciela Almeida e o marido produzem hortaliças orgânicas, em Nova Santa Rita, na Grande Porto Alegre. A agricultora não sabe com qual produto, mas foi intoxicada quando um avião pulverizou agrotóxicos sobre a lavoura vizinha.
"Era muita dor de cabeça, era muita coceira no olho. Quando o ataque vem de outros lados, de cima, no caso, a gente não tem como controlar isso", diz Graciela.
A estrada que escoa a safra de grãos do noroeste gaúcho é a mesma que serve de rota para o crime. Pela BR-386, mercadorias ilegais chegam não só à capital gaúcha, como a outros estados da região sul.
"Eles tentam arriscar uma rodovia mais movimentada, acreditando que vai ter menos chance de ser abordado, e também tentam rodovias com menos movimento, achando que vai ter menos policiamento", afirma Laudson Viegas, inspetor da PRF.
A quantidade de agrotóxicos irregulares apreendidos pela Polícia Rodoviária Federal no Rio Grande do Sul aumentou, passou de 9 toneladas em 2021, para mais de 60, em 2022. Além do Paraquat, o Benzoato de Emamectina é o químicos mais procurado pelos produtores rurais.
O cenário se repete nacionalmente. De 2020 para 2021, o número de defensivos agrícolas ilegais, apreendidos nas rodovias federais, triplicou. Em setembro deste ano, o volume confiscado já superava o total do ano anterior.
Na 5ª feira (15.dez), o SBT Brasil revelou detalhes de uma organização criminosa que contrabandeava agrotóxicos na região noroeste do Rio Grande do Sul, mas a quadrilha também era especializada na falsificação dos produtos.
O Benzoato de Emamectina, com nome comercial Emamex, tem concentração de até 8% permitida no Brasil, mas em países vizinhos chega a 30%. Os criminosos fabricavam uma substância semelhante, com dosagem inferior, e vendiam para os agricultores como se fosse o produto contrabandeado do Uruguai.
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