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Leilão com cheiro de arroz queimado

O produto pode até ser mais barato agora, mas a diferença subsidiada, vai chegar na gôndola, analisa Alessandra Bergmann

Leilão com cheiro de arroz queimado
Mercadoria importada pela Conab terá preço tabelado | Divulgação/Unsplash
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Depois de tentativas na Justiça para evitar a importação, o governo realizou o leilão onde iria pagar R$ 5,00 pelo quilo do arroz comprado, mas vendê-lo a R$ 4,00, valor de tabela.

Mas o evento onde seria gasto mais de um bilhão de reais foi cancelado por suspeita de irregularidades.

Segundo explicações, algumas empresas vencedoras não estavam aptas a participar.

Mas, na verdade, esse leilão levantou uma série de polêmicas, começando pelos próprios arrozeiros que tentaram dialogar com o governo, garantindo que mesmo com as chuvas no Rio Grande do Sul, há arroz suficiente para o consumo dos brasileiros.

Também foi questionado que essa aquisição foi feita por empresas sem nenhuma ligação com o mercado de cereais, como uma sorveteria, por exemplo.

Já estava até acontecendo uma movimentação para criação de uma CPI, em Brasília.

A cereja do bolo nessa história foi o fato de que um dos sócios de uma corretora do Mato Grosso que intermediou parte das vendas, ou seja, lucrou com toda essa negociação, é filho de Neri Geller, Secretário de Política Agrícola do governo federal.

Neri Geller colocou o cargo à disposição do governo e foi demitido.

Gráfico da colheita da safra de arroz 2023/2024 no Rio Grande do Sul | Federarroz-RS
Gráfico da colheita da safra de arroz 2023/2024 no Rio Grande do Sul | Federarroz-RS

O governo decidiu importar arroz poucos dias depois do início das enchentes no Rio Grande do Sul.

O estado é responsável por 70% da produção nacional do grão, mas já havia colhido 90% do cereal antes das enchentes.

O assunto não está encerrado. Segundo o presidente da Conab, um novo leilão será realizado.

A nova data ainda não foi definida, mas já se sabe que o edital desse segundo leilão será feito com auxílio da Controladoria-Geral da União (CGU), da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Receita Federal.

Três pontos muito importantes para o consumidor saber:

70% da produção do arroz é colhida no Rio Grande do Sul | Marcello Casal/Agência Brasil
70% da produção do arroz é colhida no Rio Grande do Sul | Marcello Casal/Agência Brasil

  • Quem determina o preço de produto é o mercado. Ficou mais caro nos últimos dias porque o próprio governo começou a dizer que ia faltar arroz. Todo mundo foi para o mercado, estocou arroz até o Natal, e o arroz que ficou disponível teve seu preço elevado às alturas.
  • O que vai acontecer com o produtor de arroz de Uruguaiana, Osório, Pelotas, locais do Brasil que dependem da economia do arroz? Refiro-me a sete mil famílias, das quais algumas perderam tudo na enchente. Parece que o governo escolheu cruelmente o momento para tomar essa decisão e desestruturar a cadeia do arroz no Estado gaúcho.
  • Ainda não se sabe de qual país virá esse arroz. A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) diz que vai garantir que esse arroz chegue ao consumidor com qualidade e barato. Espera-se que esse arroz atenda às mesmas exigências de segurança alimentar que o arroz brasileiro, inclusive sendo livre de agroquímicos proibidos no Brasil.

O arroz pode até ser barato agora, mas a diferença subsidiada, paga por ser mais barato agora na gôndola, chegará. Sairá do próprio bolso do consumidor com o nome de recursos públicos e há grande chance de o arroz ser, num futuro breve, bem mais caro do que agora.

Lembro aqui que estamos falando de dinheiro público e um dos principais alimentos dos brasileiros.

O governo tem, no mínimo, a obrigação de tratar essa compra com a máxima transparência, de um investimento que poderia muito bem estar auxiliando os produtores gaúchos e não ao contrário.

Finalizo com um pedido a todos para que comprem produtos feitos no Rio Grande do Sul e ajudem a movimentar a economia brasileira, que tanto necessita neste momento.

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