Perseguição à Isis Valverde: ao menos 10 mulheres são vítimas de stalking por hora no Brasil
Perseguir alguém, seja pessoalmente ou online, passou a ser considerado crime a partir de 2021; stalker da atriz foi preso na última semana

Emanuelle Menezes
A atriz Isis Valverde, perseguida há cerca de 20 anos por um homem – preso na última semana ao tentar invadir o condomínio onde ela mora –, faz parte de uma estatística que cresce no país: a cada hora, ao menos 10 mulheres são vítimas de perseguição no Brasil. Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025.
Em 2024, o crime de perseguição, mais conhecido como stalking, cresceu 18,2% em relação ao ano anterior. Foram 95.026 registros de mulheres vítimas deste tipo de violência. Os números podem ser ainda maiores. Isso porque se trata de um crime "com alta subnotificação, já que é necessário que a vítima reconheça a atitude enquanto violência e realize a denúncia", diz o anuário.
Dados do Disque 100, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, também mostram o aumento nas denúncias de perseguição. Em todo o ano de 2024, foram 4.814 casos de violação. Em 2025, de 1º de janeiro até 15 de dezembro, já são 5.070 casos – um aumento de pouco mais de 5%. Os números podem ser encontrados no Painel de Dados do MDHC.
Perseguição à atriz
A própria atriz acionou a polícia após perceber a movimentação do suspeito. Cristiano chegou ao local em um carro de aplicativo, e toda a ação foi registrada por câmeras de segurança. Essa foi a terceira tentativa dele de se aproximar de Isis. Em uma das ocasiões anteriores, o stalker conseguiu fugir antes da chegada dos policiais.
Na delegacia, Cristiano confessou que monitorava a rotina da atriz e relatou várias tentativas de aproximação ao longo dos últimos anos. Em uma das ocasiões, ele se apresentou na portaria do condomínio como primo de Isis. Questionado pelos policiais, o stalker afirmou que essa era "a única maneira de chegar até ela".
Em nota, Isis Valverde agradeceu o trabalho dos policiais e afirmou que a prioridade é a segurança da família e de todos ao seu redor.
O que diz hoje a lei brasileira sobre o stalking
A definição do crime no Código Penal é:
"Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade."
Solano de Camargo, presidente da Comissão de Privacidade, Proteção de Dados e Inteligência Artificial da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo, afirma que o stalking consiste em uma série de comportamentos repetitivos e invasivos, como seguir, vigiar ou contatar uma pessoa insistentemente, de forma a causar medo, angústia ou prejuízo psicológico.
Os casos mais comuns de stalking, segundo Solano, envolvem fãs obsessivos, ex-parceiros românticos, colegas de trabalho, amigos e conhecidos.
São aquelas pessoas que não aceitam o fim de um relacionamento e passam a ligar de forma obsessiva para o(a) ex-companheiro(a), vão à casa ou trabalho da vítima sem serem chamadas, usam de diversos artifícios para intimidar a vítima a, por exemplo, não iniciar nova relação amorosa, como também relações entre fã e artista.
Como identificar se estou sendo vítima de stalking?
O especialista salienta alguns sinais de alerta que podem ajudar na identificação de casos de stalking. São eles:
- ser seguido constantemente;
- receber ligações ou mensagens indesejadas repetidamente;
- notar a presença frequente de uma pessoa nos mesmos lugares que você;
- sentir medo ou angústia devido a essas ações repetitivas.
Para denunciar casos de perseguição, a vítima deve procurar uma delegacia de polícia e registrar um boletim de ocorrência, apresentando evidências como mensagens, fotos ou vídeos que comprovem o crime.
Segundo o especialista, em casos de urgência, é recomendável ligar para o 190. Também é importante buscar apoio psicológico e jurídico para lidar com o impacto da perseguição.
"A maioria das denúncias é motivada pelo medo e pela sensação de insegurança que essas perseguições constantes geram nas vítimas", afirma.






