Empresa recorre de decisão de Autoridade de Proteção de Dados e mantém pagamento por leitura de íris
ANPD determinou na sexta-feira (24) a suspensão do pagamento por registro biométrico dos brasileiros; World ID entrou com recurso
Cido Coelho
A World ID, iniciativa da Tools for Humanity responsável por criar uma identidade única na internet, entrou com um recurso na Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) para seguir pagando os brasileiros que cadastram sua íris no sistema da empresa.
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Segundo as informações do próprio projeto, mais de 400 mil pessoas já realizaram o cadastro em unidades de atendimento na capital paulista.
A ANPD fez uma investigação e concluiu que "o oferecimento de criptomoedas como contrapartida financeira pode comprometer a obtenção do consentimento livre e informado por parte dos titulares dos dados pessoais".
A Tools for Humanity foi orientada a realizar adequações para garantir a conformidade com a legislação vigente.
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Em nota enviada ao SBT News, a empresa afirma que está em contato com a ANPD e apresentou um recurso da decisão.
"Um recurso foi apresentado para garantir tempo para cumprir a determinação da ANPD e discussões mais profundas sobre esse importante serviço. O recurso tem efeito suspensivo, de modo que, enquanto ele está em análise, o serviço permanece inalterado, incluindo a disponibilidade do incentivo do Worldcoin token", diz a Tools for Humanity.
A empresa diz que está confiante e que "poderá trabalhar em conjunto com as autoridades para garantir que todos os brasileiros possam continuar participando plenamente da rede World".
"A World trabalha para estar em total conformidade com todas as leis e regulamentações aplicáveis ao tratamento de dados pessoais nos mercados em que atua. E também tem empenhado todos os esforços para esclarecer a população sobre os enormes benefícios que a nova tecnologia trará para a humanidade".
A ambição do projeto World é viabilizar a criação de uma identidade global que diferencie humanos de inteligências artificiais, para prevenção de fraudes e criação de serviços de autenticação.
A iniciativa foi desenvolvida pelo bilionário Sam Altman, CEO da OpenAI e criador do ChatGPT, em parceria com Alex Blania.
Projeto está no Brasil desde novembro
No Brasil desde novembro, a World abriu 50 pontos de coleta em toda a cidade de São Paulo. A operação é realizada pela organização Tools for Humanity, integrante do projeto.
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Ela é a responsável por operar o processo biométrico que garante que os participantes são humanos e fazem a emissão do certificado digital único, que não pode ser copiado.
O projeto tem três frentes principais:
- World ID - Identidade digital na internet, criada a partir do escaneamento da íris;
- Token Worldcoin (WLD) - Uma criptomoeda obtida após a criação do identificador no aplicativo.
- World App - Um aplicativo que reúne diversas ferramentas e permite gerenciar o saldo da criptomoeda WLD.
A captura é realizada pelo dispositivo Orb, que registra a imagem da íris e transforma esse dado em um código criptografado.
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A iniciativa acredita que o recurso pode ser útil para evitar perfis falsos nas redes sociais, facilitar transações e superar os tradicionais processos de Captcha, que servem para confirmar que o acesso não é feito por um robô.
Após a coleta, o humano recebe a identidade digital pelo aplicativo da World e pode acessar os aplicativos oferecidos pelo sistema.
Sua íris por dinheiro
Os brasileiros que se dispõem a oferecer sua íris para registro recebem 20 unidades da Worldcoin (WLD), cujo preço varia conforme a cotação da criptomoeda, que neste momento somam pouco mais de R$ 200.
Segundo a empresa, em 18 meses o projeto registrou 23 milhões de identidades no mundo todo, sendo que destas 10,6 milhões foram de humanos verificados.