Poluição do ar pode desencadear Alzheimer, apontam cientistas
Segundo pesquisadores, uma partícula minúscula encontrada no ar chamada magnetita pode ativar os sintomas da doença degenerativa
Cientistas da Universidade de Tecnologia de Sidney, na Austrália, em conjunto com pesquisadores de Cingapura, investigam a relação da poluição do ar com a forma precoce da doença de Alzheimer. A pesquisa foi publicada na edição 185 da publicação científica Environment International (Meio Ambiente Internacional) deste mês.
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A culpa pode ser de uma minúscula partícula chamada magnetita, que ativa os sintomas da doença degenerativa e leva à perda de memória, cognição e consequente queda na qualidade de vida. Segundo o estudo, a magnetita é um composto magnético de óxido de ferro formado por processos de combustão em alta temperatura.
Estas partículas podem ser formadas a partir do escapamento de veículos, incêndios em florestas, usinas de energia movidas a carvão, desgaste do motor e até mesmo na fricção das pastilhas de freio dos veículos. Elas entram pelo nariz e conseguem contornar a barreira hematoencefálica, uma camada que projete o cérebro de substâncias nocivas, e se alojar.
“No entanto, este é o primeiro estudo que analisa se a presença de partículas de magnetita no cérebro pode de fato levar a sinais de Alzheimer”, disse a professora associada Cindy Gunawan, ao site Interesting Engineering.
Ratos e células neuronais humanas foram expostos à poluição
O estudo expôs camundongos e células neuronais humanas em laboratório a partículas tóxicas de poluição do ar para entender a participação delas no desenvolvimento do Alzheimer.
“Embora menos de 1% dos casos de Alzheimer tenham origem genética, o ambiente e as escolhas de estilo de vida parecem ter um grande impacto na doença”, disse a professora.
A especialista ressalta que este é o primeiro estudo que liga as partículas de magnetita no cérebro ao Alzheimer.
“Estudos anteriores observaram a ligação entre a poluição do ar e a doença de Alzheimer. Este é o primeiro a analisar se as partículas de magnetite ligadas ao cérebro podem desencadear os seus sintomas.”
Nos quatro meses de pesquisa, os camundongos saudáveis e geneticamente suscetíveis foram expostos a ferro, magnetita e a hidrocarbonetos de diesel. A magnetita afetou mais os ratos, trazendo resultados mais consistentes a doença de Alzheimer, provocando perda de células cerebrais, acúmulo de placa amiloide e aumento do estresse, ansiedade e comportamento de memória de curto prazo.
“Inspiramos essas partículas e elas têm a capacidade preocupante de entrar no cérebro através das nossas passagens nasais, contornando a barreira protetora hematoencefálica”, acrescentou ela.
A partícula desencadeou uma resposta imunológica levando à inflamação e ao estresse oxidativo, que pode contribuir para a demência. O mesmo foi detectado nos ratos testados pelos pesquisadores. Eles alertam que devem ser observadas políticas públicas sobre a poluição do ar e, principalmente, a regulação dos níveis de magnetita no ar.
“Isso significa que qualquer pessoa exposta a partículas de magnetita no ar pode potencialmente desenvolver a doença de Alzheimer, independentemente da sua origem genética ou de outros fatores de risco. Portanto, é vital monitorar e regular os níveis de magnetita no ar e aumentar a conscientização sobre os potenciais riscos à saúde decorrentes da poluição do ar”, analisa a doutora Charlotte Fleming, coautora da pesquisa.