Por que o risco de ter câncer diminui após os 75 anos? Entenda
Idosos podem ter características fisiológicas específicas que dificultam a manifestação da doença no pulmão — e isso pode ser usado para novos tratamentos
Wagner Lauria Jr.
Alterações fisiológicas da idade podem facilitar o desenvolvimento do câncer. No entanto, a partir dos 75 anos essa probabilidade, em vez de continuar subindo, começa a cair consideravelmente. O fenômeno está sendo estudado por pesquisadores do Memorial Sloan Kettering Cancer Center (MSK), no Estados Unidos, em uma pesquisa publicada na revista científica Nature.
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Os pesquisadores descobriram que, em estágios avançados da vida, as células envelhecidas perdem a capacidade de se renovar, um processo essencial para evitar o crescimento descontrolado característico do câncer.
"Ainda há muito que não sabemos sobre como o envelhecimento realmente muda a biologia do câncer", explica Xueqian Zhuang, principal autora do trabalho.
Como foi feito o estudo?
No estudo, os cientistas utilizaram camundongos geneticamente modificados para simular um modelo de câncer de pulmão comum em humanos. Surpreendentemente, os camundongos mais velhos, equivalentes a humanos acima dos 70 anos, desenvolveram menos tumores. A pesquisa revelou que esses animais produzem maiores quantidades de uma proteína chamada NUPR1, usada pelas células pulmonares para funcionar em situações de deficiência de ferro, mesmo que o nutriente esteja presente em níveis adequados.
"Na verdade, as células envelhecidas têm mais ferro, mas agem como se não tivessem o suficiente", explica Zhuang. Essa “confusão” celular leva à perda da capacidade de regeneração, o que reduz a frequência de mutações genéticas e, consequentemente, o risco de câncer.
Evitar exposição ao sol e parar de fumar
Os pesquisadores também testaram o impacto de reverter esse mecanismo ao aumentar os níveis de ferro ou reduzir a NUPR1 nos camundongos. Ambos os métodos induziram novos tumores, comprovando o papel protetor do envelhecimento celular.
Segundo Tuomas Tammela, coautor do estudo, os resultados reforçam a importância de evitar exposições cancerígenas na juventude, como tabagismo e excesso de radiação ultravioleta ao tomar sol. "Os eventos que ocorrem quando somos jovens são provavelmente mais perigosos do que os que acontecem mais tarde na vida", alerta.
Possível tratamento para câncer de pulmão
Além do câncer, a pesquisa pode abrir novas possibilidades para tratar doenças pulmonares. A administração de ferro, por exemplo, mostrou potencial para ajudar na regeneração de pulmões lesionados, o que pode beneficiar milhões de pessoas com função pulmonar reduzida, especialmente após a pandemia de Covid-19. No entanto, essa abordagem precisaria ser cuidadosamente avaliada, já que poderia aumentar o risco de câncer em alguns casos.
"O equilíbrio entre regeneração e proteção contra o câncer é delicado, e qualquer intervenção deve ser aplicada com cautela", conclui Tammela.