O que são os mosquitos criados para o combate à dengue?
Brasil inaugurou a maior biofábrica do mundo dedicada à criação de Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia; entenda

Wagner Lauria Jr.
Combater a dengue criando novos mosquitos? É a proposta da maior biofábrica do mundo dedicada à criação de mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, inaugurada em Curitiba, no Paraná.
+ Por que os casos de dengue caíram 78,8% em 2025?
O evento contou com a presença do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que ressaltou as prioridades do programa.
“Nosso foco serão as cidades prioritárias, com maior risco de transmissão de dengue em 18 estados do nosso país com o objetivo de protegermos 140 milhões de brasileiros com a distribuição desta tecnologia", destacou Padilha.
Com capacidade de produção de até 100 milhões de ovos de mosquitos por semana, a biofábrica é resultado da colaboração entre o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e o World Mosquito Program (WMP), com apoio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Ministério da Saúde.
A Wolbito será responsável por atender exclusivamente a demanda nacional, abastecendo as regiões com maior incidência de dengue, zika e chikungunya.
O que é Wolbachia e como ela atua
O método desenvolvido utiliza mosquitos Aedes aegypti que carregam a bactéria Wolbachia, um microrganismo presente naturalmente em mais da metade dos insetos do planeta. A presença da bactéria nos mosquitos impede a multiplicação dos vírus da dengue, zika e chikungunya dentro do organismo do vetor. Assim, mesmo que um Aedes com Wolbachia pique uma pessoa infectada, ele não consegue transmitir o vírus a outras pessoas.
Quando esses mosquitos se reproduzem, a Wolbachia é passada para seus descendentes, estabelecendo uma população de vetores com menor capacidade de transmissão das doenças. O método não envolve modificações genéticas, trata-se de uma abordagem biológica.
Exemplos bem sucedidos e expansão
O Método Wolbachia está em uso no Brasil há mais de uma década, com resultados expressivos. Em Niterói (RJ), primeira cidade totalmente coberta pela estratégia, os casos de dengue caíram cerca de 69% após a liberação dos mosquitos com Wolbachia. Além de Niterói, outras sete cidades já receberam o método, e diversas outras estão em fase de preparação.
A previsão do Ministério da Saúde é alcançar 70 milhões de pessoas nos próximos anos. A implementação ocorre em etapas, começando por ações de informação e engajamento comunitário, essenciais para esclarecer a população sobre o funcionamento e os benefícios do método. Só após essa fase é que os mosquitos são liberados gradualmente nas áreas selecionadas.
Atualmente, municípios como Blumenau (SC), Brasília (DF), Luziânia (GO) e Uberlândia (MG) estão se preparando para receber os chamados Wolbitos, como são apelidados os Aedes aegypti com Wolbachia.
Queda de casos de dengue em 2025
O Brasil registrou uma queda de 76,2% nos casos de dengue nos primeiros seis meses de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024. Os dados são do Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde.
A diminuição nos registros pode estar relacionada ao baixo índice de chuvas do verão deste ano. É o que aponta o infectologista Renato Grinbaum.
"A dengue tem uma relação direta com o clima e isso significa a melhor proliferação do mosquita, o que explica, em grande parte, o que aconteceu", explica.
A segunda causa é que o surto do ano passado gerou imunidade nas pessoas, uma vez que a maior parte das pessoas foi infectada com um dos quatro tipos da doença.
"Só aconteceria uma outra grande epidemia se houvesse a introdução de um outro subtipo da dengue, o que não ocorreu", ressalta Renato.