Hipertensão afeta 3,5 milhões de crianças e adolescentes no Brasil; saiba como cuidar
Doença crônica silenciosa não possui relação só com a idade e pode ter causas variadas. Veja sinais de atenção e saiba como prevenir
Wagner Lauria Jr.
Muitas pessoas acreditam que a hipertensão arterial, uma doença crônica que aparece silenciosamente e não tem cura, possui relação direta com a idade. De fato, ela atinge cerca de 60% dos idosos no Brasil. No entanto, seu diagnóstico vem se tornando uma realidade cada vez mais presente entre os mais jovens, dado que vale de alerta para o Dia Nacional da Hipertensão: pelo menos 3,5 milhões de crianças e adolescentes são hipertensos no país, segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH).
+ Mortalidade por hipertensão arterial atinge maior taxa dos últimos 10 anos
O cardiologista Ciro Jones ressalta que o aumento pode estar relacionado a dois fatores: hereditariedade (genética) e hábitos não-saudáveis na infância e juventude.
"Filhos de pai e mãe hipertensos têm mais chances de desenvolver hipertensão ao longo de sua vida, muitas vezes ainda mais cedo", disse
No caso das mulheres jovens, a elevação da pressão pode estar relacionada ao uso de anticoncepcional oral, segundo o membro do conselho científico da SBH, o cardiologista Luiz Bortolotto. Caso ele provoque o aumento da pressão, deve ser substituído por outro método contraceptivo.
+ Relatório da OMS mostra impacto da hipertensão arterial
Além disso, há algumas diferenças nos fatores de risco para o desenvolvimento da condição de acordo com a faixa etária, ressalta Bortolotto. Segundo ele, apesar de a hipertensão ser uma doença silenciosa em muitos casos, nas crianças causa mais sintomas: dor de cabeça recorrente, falta de ar, dor no peito e sangramento nasal. Os adultos também podem apresentar o mesmo quadro sintomático, no entanto sua incidência é menor.
"O principal fator que contribui para hipertensão entre os jovens, por exemplo, é o aumento do peso, obesidade e o sedentarismo; já na criança e no adolescente, além das causas citadas, há alterações no rim, nas glândulas da tireoide e causas congênitas vasculares, como o estreitamento da aorta, que ajudam a desenvolver o quadro", explica
A diabetes e aterosclerose (placas de gordura) podem causar a doença tanto nas crianças, quanto nos adultos. O especialista da SBH considera como jovem a faixa dos 18 até os 30 anos; e crianças, todos os abaixo de 18 anos.
Mesmo magra, a pessoa pode ter hipertensão?
Sim. Segundo o cardiologista Nabil Ghorayeb, pacientes que apresentem diabetes, aterosclerose (placas de gordura) nos vasos sanguíneos que irrigam os rins, podem se tornar hipertensos ainda que não estejam acima do peso. Além disso, segundo Bortollotto, o uso de drogas ilícitas pode aumentar a pressão arterial em jovens. Ghorayeb completa que uma alimentação desregrada, com muita fritura, gordura e, sobretudo, muito consumo de sódio (sal), eleva os índices de pressão arterial independentemente do seu Índice de Massa Corpórea (IMC) – medida responsável por aferir índices de magreza, sobrepeso e obesidade.
Como é feito o diagnóstico?
Para fazer o diagnóstico, Bortollotto ressalta que o método mais eficaz é a medição de pressão. No caso das crianças, há um equipamento feito especialmente para a faixa-etária, já que seu braço é mais fino. A recomendação é que o pediatra meça a pressão dos pacientes a partir dos 3 anos, e antes disso se a criança apresentar sintomas ou for prematuro.
Em algumas situações, para confirmação de diagnóstico, é possível que haja a solicitação do Mapa24h – exame que faz o monitoramento de pressão para verificar o histórico de oscilações e picos ao longo de um dia. O método de diagnóstico é recomendado principalmente entre jovens, segundo Luiz, que precisam aferir a pressão ao menos uma vez por ano.
Quando é considerado que a pessoa está com pressão alta?
No caso dos jovens, quando a sua pressão é igual ou superior a 140 por 90 (ou 14 por 9) em medidas repetidas. Já para crianças são outros valores, que variam de acordo com sua idade e estatura (sua altura).
Tratamento e prevenção
Para tratar hipertensão é preciso considerar a gravidade do quadro. Em alguns casos, segundo Bortolotto, em que o índice de pressão está diretamente condicionado ao estilo de vida, a adoção de uma alimentação saudável, práticas de exercícios físicos, redução do peso, parar de fumar, evitar álcool e o estresse podem também diminuir os índices de pressão.
No entanto, em alguns casos, se a hipertensão for crônica, o paciente precisa tomar medicamentos por toda a vida. No caso dos jovens, os mais recomendados são os beta-bloqueadores e inibidores do sistema renina-angiotensina – que ajudam na redução e controle da pressão arterial. O inibidor é contraindicado para mulheres em idade fértil, já que tem potencial de provocar problemas na gestação, caso ela engravide.