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Saúde

Entenda por que a Anvisa proibiu a manipulação de Ozempic e Wegovy

Especialistas alertam para riscos e ausência de comprovação da eficácia nas versões manipuladas; veja detalhes

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Anvisa proíbe manipulação de Ozempic, Wegovy e Rybelsus. | Unsplash/Haberdoedas
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A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou um despacho na segunda-feira (25) proibindo a manipulação do Ozempic, Wegovy e Rybelsus, medicamentos à base de semaglutida amplamente usados no tratamento da obesidade e de diabetes tipo 2. A decisão foi tomada após constatação de alto risco sanitário e ausência de comprovação de eficácia e segurança nas versões manipuladas.

Esses medicamentos são biotecnológicos complexos, produzidos com processos exclusivos que utilizam células vivas para criar moléculas seguras e estáveis. A agência destacou que a qualidade, eficácia e segurança desses medicamentos dependem de processos industriais rigorosamente controlados, que envolvem etapas específicas de fabricação e testes detalhados de pureza, identidade, potência e estabilidade.

Consequentemente, ainda segundo a Anvisa, a manipulação em farmácias magistrais não consegue replicar esses controles, elevando o risco de falhas de qualidade, redução da eficácia e potenciais problemas de segurança para os pacientes. Por isso, insumos de origem biotecnológica só poderão ser importados por empresas devidamente autorizadas.

+ Anvisa exige retenção de receita para venda de Ozempic e similares

Quais são os riscos à saúde das versões manipuladas?

Especialistas concordam que a semaglutida mudou o tratamento de obesidade e de diabetes no Brasil. Os benefícios são cardiovasculares, renais, hepáticos e até possíveis efeitos protetores contra demência, potencial ainda em estudo.

No entanto, as versões manipuladas não têm essa comprovação de eficácia, como destaca a médica endocrinologista Tassiane Alvarenga, metabologista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), ao SBT News.

"As versões manipuladas colocam o paciente em risco, com possibilidade de contaminação e efeitos imprevisíveis”, alerta.

A hepatologista Patrícia Almeida, doutora pela USP e membro da Sociedade Brasileira de Hepatologia, explica que os riscos atingem especialmente o fígado, órgão responsável por metabolizar os medicamentos.

“Quando manipulados, não há como garantir pureza ou dose correta. Isso pode levar a intoxicação, hepatite medicamentosa, elevação de enzimas hepáticas e até insuficiência hepática. Além disso, há risco aumentado de pancreatite, hipoglicemia e reações adversas graves."

A médica reforça que a decisão da Anvisa é necessária e protetiva. “Estamos falando de medicamentos biológicos, não de moléculas simples que podem ser copiadas. A medida evita complicações graves e protege a vida dos pacientes”, acrescenta Patrícia.

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Alerta sobre uso irregular

Apesar da popularização dos chamados “emagrecedores”, o uso irregular preocupa a comunidade médica. Relatórios apontam que farmácias de manipulação chegaram a ofertar versões em massa desses medicamentos, muitas vezes sem controle de qualidade.

Atualmente, não há nenhum medicamento à base de semaglutida registrado no Brasil. Por isso, qualquer manipulação da substância se torna irregular.

A decisão da Anvisa foi formalizada no Despacho nº 97/2025, acompanhado da Nota Técnica nº 200/2025, com o objetivo de reduzir riscos em meio ao crescimento da procura por essas substâncias. A Anvisa reforçou que a fiscalização será intensificada.

A farmacêutica Novo Nordisk, fabricante do Ozempic e do Wegovy, declarou em nota à imprensa que a decisão da Anvisa representa uma “camada adicional de proteção” à saúde pública.

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Mas e o Mounjaro manipulado?

A tirzepatida, princípio ativo do Mounjaro, é um peptídeo sintético de estrutura altamente complexa, desenvolvido também sob rigorosos padrões industriais que garantem pureza, estabilidade e dosagem precisas. Essa complexidade torna o processo de produção delicado, exigindo equipamentos e controles que não podem ser reproduzidos de forma segura fora do ambiente industrial, segundo a endocrinologista Tassiane Alvarenga.

Por não ser uma molécula biológica, a tirzepatida não foi incluída na nota recente da Anvisa, que restringe a manipulação de medicamentos produzidos por bioengenharia, como a semaglutida.

Ainda assim, a própria fabricante, Eli Lilly, alerta que a manipulação da tirzepatida em farmácias magistrais não é recomendada, devido à falta de garantias quanto à eficácia, segurança e estabilidade da molécula fora do controle industrial.

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