Depressão pós-parto: quais são os sinais de que algo não vai bem com a mãe?
Defesa de Eduarda Oliveira, que confessou ter matado a filha, disse que ela sofre com condição, que afeta cerca de 25% das mães brasileiras

Wagner Lauria Jr.
Quando se fala em maternidade, o imaginário coletivo muitas vezes pinta um cenário de felicidade plena. No entanto, o período pós-parto pode ser marcado por sentimentos de tristeza profunda, ansiedade e desconexão com o bebê – sinais típicos da depressão pós-parto (DPP), um problema de saúde mental que afeta cerca de 1 em cada 7 mulheres, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
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No Brasil, esse número é ainda mais alarmante: cerca de 25% das mães apresentam sintomas de DPP, segundo estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Esta semana foi marcada por um caso policial que pode estar relacionado à condição. A defesa de Eduarda Silva de Oliveira, de 22 anos, argumenta que, mesmo confessando, a mãe não pode ser responsabilizada pela morte da recém-nascida em Novo Lino, Alagoas por causa de sua condição psicológica.
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De acordo com o delegado Igor Diego, responsável pelo caso, os exames psicológicos podem constatar se o crime aconteceu devido ao estado puerperal – período pós-parto caracterizado por alterações hormonais e emocionais na mulher, um dos sinais de depressão pós-parto.
Caso essa possibilidade seja confirmada, o crime deixa de ser tipificado como homicídio e passa a ser infanticídio, quando a mãe mata seu filho recém-nascido por um estado emocional alterado.
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O que é a depressão pós-parto?
A depressão pós-parto é um tipo de transtorno depressivo que pode surgir após o nascimento do bebê, com maior incidência nas primeiras semanas subsequentes ao nascimento. Diferente do "baby blues" — uma instabilidade emocional leve e passageira comum nos primeiros dias após o parto — a DPP pode persistir por meses e ser mais intensa.
De acordo com a psicóloga Ana Crys Benício, do Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar, é muito comum as mulheres relatarem cansaço e sentimento de incompreensão, choro fácil, fragilidade emocional e até irritabilidade nos dias após o parto. No entanto, se os sintomas persistirem por mais de três meses, de forma intensa, pode caracterizar a depressão pós-parto.
"A grande característica (da depressão pós-parto) é que interfere diretamente na relação da mãe com o bebê, com menos interação. Ela (mãe) quer desistir da amamentação, sente-se desconfortável ao ter que falar com o bebê; sente-se desamparada. É algo mais intenso do ponto de vista emocional, e mais duradouro", disse.
Os principais sintomas são:
- Tristeza profunda e persistente;
- Dificuldade de vínculo com o bebê;
- Insônia ou sono excessivo;
- Fadiga extrema;
- Sentimentos de culpa ou inutilidade;
- Pensamentos de autolesão ou sobre machucar o bebê (em casos graves).
O diagnóstico é feito por meio de entrevista clínica estruturada, ou seja, de uma avaliação completa, geralmente conduzida por um psiquiatra.
Causas são diversas
A depressão pós-parto não tem uma única causa. Ela pode ser desencadeada por uma combinação de alterações hormonais (principalmente na progesterona, estrógenos gonadais e prolactina), predisposição genética, estresse, histórico de depressão e transtornos de ansiedade, segundo artigo publicado na Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas da USP.
Além disso, fatores socioeconômicos, como baixa renda, violência doméstica e maternidade solo, também aumentam significativamente o risco da doença, de acordo com a Fiocruz.
Silêncio pode agravar casos
Segundo a psicóloga, a romanização da maternidade dificulta o diagnóstico da depressão pós-parto.
"Muitas mães não conseguem se expressar, sentem culpa e vergonha por ter dificuldades, entraves em relação a essa adaptação. O que é esperado, então, acaba sendo visto como motivo de crítica."
A demora no diagnóstico pode ter consequências graves, tanto para a mãe quanto para o bebê. Estudos mostram que a DPP não tratada pode prejudicar o desenvolvimento emocional e cognitivo da criança.
Tratamento
O ideal é que a paciente passe por uma avaliação psiquiátrica, segundo a especialista. Durante o tratamento, pode ser indicada a administração de medicamentos, além de acompanhamento psicológico e suporte familiar.
A melhora vai ser observada no acompanhamento psicológico, especialmente em três aspectos:
"Questão do humor, do apetite e retomada do interesse em atividades que tinha deixado de lado", elenca Crys.
No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece atendimento gratuito por meio da Atenção Primária à Saúde e dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
É possível prevenir?
O Ministério de Saúde dá algumas orientações para prevenir casos de depressão pós-parto: evitar o isolamento social; realizar check-ups durante o período pré-natal e evitar cafeína, álcool e outras drogas ou medicamentos (exceto se forem indicados pelo seu médico) durante a gravidez e o puerpério.