Covid: após 3 anos da primeira imunizada no Brasil, cobertura vacinal é desafio
SBT News conversou com infectologista da Fiocruz para entender o que mudou e quais são os próximos passos contra a doença
Em 17 de janeiro de 2021, uma enfermeira foi a primeira brasileira imunizada contra covid-19. Há três anos, Mônica Calazans, funcionária do hospital Emílio Ribas, recebia uma dose da vacina Coronavac, produzida no país pelo Instituto Butantan. Três anos depois, quais são os desafios da imunização contra o coronavírus no Brasil?
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O SBT News conversou com o médico infectologista Julio Croda, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para entender o que mudou desde a imagem de uma enfermeira negra sendo vacinada em São Paulo e quais são os próximos passos na luta contra a covid.
Para Croda, o grande desafio três anos após o início da vacinação é manter a população consciente de que a covid ainda é um risco para pessoas de grupos mais vulneráveis, como idosos, imunossuprimidos e crianças menores de dois anos que não foram vacinadas.
"É importante que a gente mantenha coberturas elevadas. A todo momento surgem novas variantes, que serão responsáveis por um aumento do número de casos. A população tem que estar protegida, principalmente para as formas graves, que podem levar a hospitalização e óbito", diz o infectologista.
Segundo Croda, o engajamento da população será cada vez mais necessário, já que o que se planeja é que a vacina contra covid-19 seja periódica, ou seja, todo ano haja uma dose de reforço, adaptada para novas variantes e cepas. O obstáculo a ser vencido, para o médico, é a desinformação.
Taxas de cobertura vacinal de outras doenças, como a Influenza, também registraram queda nos últimos anos, segundo o médico, por causa da campanha antivacina e a desinformação que têm tomado as redes sociais. Em 2023, a meta era ter uma cobertura vacinal contra a gripe de 90% do público-alvo em todo o país. Mais de 80 milhões de brasileiros fazem parte do grupo prioritário para essa imunização. Mas os números da Campanha Nacional de Vacinação Contra a Influenza 2023 chegaram à marca de 60,6%.
"No passado a gente conseguia elevadas coberturas nessas campanhas de Influenza todo ano, acima de 80%. O último ano foi o de menor cobertura vacinal para a Influenza, justamente por essa disseminação de desinformação nas redes sociais", destaca Julio Croda.
Tratamento contra a covid
Além de manter uma cobertura elevada, o médico acredita que é necessário treinar os profissionais de saúde para reconhecer rapidamente a doença, principalmente entre idosos e imunossuprimidos. Isso porque o Ministério da Saúde adquiriu um antiviral efetivo contra a covid, o Paxlovid, que não está sendo usado da forma devida, segundo Croda.
"É necessário que essa população seja testada em até 5 dias, que a medicação seja indicada em até 5 dias, para que tenha um impacto na redução de hospitalização e óbitos, especialmente para esse grupo mais vulnerável. A medicação está disponível no SUS e a gente vê que as pessoas não estão usando. A maioria das pessoas que acabaram morrendo de covid no Brasil não utilizaram esse antiviral, o Paxlovid", diz.
De acordo com o infectologista, a novidade em 2024 deve ser uma vacina atualizada, a monovalente para XBB 1.5, que garante uma maior e mais duradoura proteção para as variantes que estão circulando no momento. A campanha deve começar junto com a de Influenza, no fim de março.
Números da covid-19 no Brasil
O Vacinômetro, plataforma online do Ministério da Saúde, registra mais de 518 milhões de doses da vacina monovalente aplicadas no país. Mais de 32 milhões de doses do imunizante bivalente foram administradas. Os dados foram atualizados no último domingo (14).
Desde 12 de março de 2020, quando foi registrada a primeira morte por covid-19 no Brasil, o país acumula 708.739 óbitos pela doença. Mais de 38 milhões de casos foram notificados.