Pesquisa mostra que 6 em cada 10 brasileiros experimentaram álcool antes da maioridade
Dados apontam ainda que 1 em cada 4 passou a beber regularmente na adolescência
Juliana Tourinho
SBT Brasil
Os jovens estão se entregando à bebida alcoólica cada vez mais cedo. Uma pesquisa mostra que, na maioria dos casos, os adolescentes buscam autoafirmação ao consumirem álcool com os amigos e, até mesmo, com a família.
“Eu lembro da minha primeira vez. Tinha uns 8 anos. Estava no litoral com meus pais e sempre restava um pouquinho de caipirinha. Eu achava docinho e fui bebendo... até ficar embriagado”, relata João (nome fictício), vendedor, que hoje, aos 53 anos, está há uma década longe do álcool.
História parecida com a de Roberto (nome fictício), corretor de imóveis, que começou aos 13 “bicando a cerveja do pai”. “O tempo foi passando e esse intervalo foi diminuindo... no final do meu alcoolismo eu fiquei mais na cerveja, por causa dos apagões alcoólicos.”
+ Brasil confirma 29 casos de intoxicação por metanol após consumo de bebidas alcoólicas
+ PF e laboratórios periciais vão identificar "DNA do metanol" para rastrear origem da contaminação
Os dois fazem parte de um grupo que começou cedo e perdeu o controle. As consequências foram graves: afastamento da família e dos amigos, perda de emprego e saúde debilitada.
“Eu comecei a beber pra parar de tremer. Fiquei com anorexia, perdi os movimentos, não conseguia andar, nem falar”, conta João. Já Roberto lembra do arrependimento: “Me disseram que fui agressor com mulher, com amigos. É uma sensação de impotência.”
Eles se reconhecem nos perfis revelados pelo Levantamento Nacional sobre Padrões de Consumo de Álcool e Drogas (Lenad III), feito pela Unifesp em parceria com o Ministério da Justiça. A pesquisa mostra que 61,2% dos brasileiros com 14 anos ou mais já consumiram bebida alcoólica, e 1 em cada 4 começou a beber regularmente antes dos 18.
Entre adolescentes de 14 a 17 anos, 19,1% consumiram álcool só no último ano — cerca de 1,1 milhão de jovens. Mais de 34% relataram episódios de consumo exagerado. A cerveja lidera as preferências (40,5%), seguida por bebidas adocicadas (31,9%) e destilados (30%).
Meninas bebendo mais cedo
Outro dado chama atenção: as meninas começam a beber mais cedo (29,5%) que os meninos (25,8%). Para a professora Zila Sanchez, coordenadora do estudo, “elas buscam um comportamento de adulto antes dos meninos e acabam tendo intoxicação maior com a mesma quantidade de álcool”. Segundo ela, quanto mais cedo o jovem começa, maior o risco de desenvolver um consumo abusivo.
Apesar da proibição legal, o álcool segue circulando livremente entre menores de idade. “É preciso discutir de forma clara a responsabilidade — da vigilância sanitária, do conselho tutelar, das forças de segurança — e garantir que haja punição para estabelecimentos que vendem bebida a adolescentes”, reforça Zila.