Mortes de fisiculturistas acendem alerta: quais são os riscos do uso de anabolizantes?
Em um mês, Illia 'Golem' Yefimchyk, de Belarus, e dois bodybuilders brasileiros tiveram parada cardiorrespiratória; especialistas comentam
Emanuelle Menezes
A morte do fisiculturista de Belarus Illia 'Golem' Yefimchyk, que teve uma parada cardiorrespiratória na sexta-feira (6) e morte cerebral confirmada dois dias depois, se soma a outros dois casos envolvendo bodybuilders, esses brasileiros, que faleceram pelo mesmo motivo no último mês:
Antônio Souza, de 26 anos, teve uma parada cardíaca em 3 de agosto, durante uma competição em Navegantes, litoral de Santa Catarina. Em 1º de setembro, em Blumenau (SC), o fisiculturista Matheus Pavlak, de 19 anos, teve uma parada cardiorrespiratória em casa.
Illia levantava 272 quilos no supino. Com 1,85 m de altura e 160 kg, ele comia um total de 16.500 calorias em sete refeições diárias.
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O SBT News conversou com especialistas para entender o que pode ter acontecido com os três atletas. Esteroides anabolizantes estão entre os principais riscos relacionados ao esporte.
"Essas substâncias aumentam muito o desempenho físico, o desempenho humano, para que esse indivíduo consiga o melhor resultado", afirma o preparador físico João Angelo. Mas, de acordo com o especialista, não dá para cravar que as mortes tenham sido causadas pelos anabolizantes.
"É sempre um contexto. Aí entra a situação de cada pessoa, de uso indiscriminado, para que ela faz isso, por que ela faz isso", diz ele. "O risco existe com certeza, o quanto de risco ainda é uma coisa que depende da especificidade de cada substância e de cada indivíduo", completa.
Para o cardiologista Cássio Rodrigues Borges, do Hospital Sírio-Libanês de Brasília, não dá para afirmar que todas as mortes envolvendo fisiculturistas são causadas pelos anabolizantes, mas eles podem contribuir, já que aumentam o risco cardiovascular. Somados aos problemas causados pelas "bombas", ainda estão os treinos intensos – com altas cargas e por muito tempo –, dietas restritas e até o uso de diuréticos, que desidratam e ajudam o atleta a ficar mais definido às vésperas da competição.
"Como o coração é um músculo, ele sofre ação de hormônios e hipertrofia, o que pode gerar um quadro de insuficiência cardíaca com diminuição da função do coração e aumentar risco de arritmias graves", diz Borges.
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Os anabolizantes ainda geram um espessamento do sangue, por aumentarem a produção de células vermelhas. Isso também altera a pressão arterial e gera um risco maior de trombose, infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Há ainda aumento dos níveis de colesterol LDL, o colesterol "ruim", explica o cardiologista.
Além do risco cardíaco, os anabolizantes podem causar outros efeitos colaterais fisiológicos e até mesmo psicossociais. "Você pode ficar mais estressado, ter aumento de apetite, insônia, já ter uma pré-disposição genética a ter ginecomastia – que é o aumento da mama –, aumentar outros hormônios ou desregular seu eixo fisiológico, seu eixo natural hormonal, colocando uma coisa externa", afirma João Angelo.
Para o preparador físico, um fisiculturista que faz uso de esteroides deve ter acompanhamento profissional, o que diminuiria "drasticamente o risco de acontecer uma fatalidade ou ter problemas decorrentes disso". Borges concorda, mas reforça que o Conselho Federal de Medicina proíbe o "uso estético e para performance esportiva de hormônios por parte dos médicos".
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Com uma "epidemia de anabolizantes" tomando conta das academias, os especialistas alertam os jovens. Segundo o cardiologista, "não há dose segura" quando o assunto é esteroide.
"Mesmo quem não é fisiculturista e usa menor dose pode ter um risco aumentado, mesmo que não seja em curto prazo. Às vezes podem demorar a surgir as complicações, mesmo depois de parado o uso, e muitas podem ser irreversíveis: sequelas de AVC, disfunção cardíaca permanente, falência testicular – pelo excesso de uso, as gônadas do paciente atrofiam e não voltam a produzir hormônios naturalmente – e em casos extremos morte de causa cardiovascular", afirma Borges.
"Cabe uma reflexão do âmbito psicológico e até filosófico do contexto de vida da pessoa, do por que ela está fazendo aquilo e se assumir aquele risco vai de encontro com o benefício que ela quer. Normalmente, as pessoas estão mais ligadas a um resultado rápido, a uma sensação de prazer momentânea, com pouquíssimo esforço, pra atingir aquilo que ela vislumbra ser o ideal para ela", diz João Angelo.