Tadalafila vira moda em academias; especialistas veem riscos
Apesar da fama, não há estudos que mostrem melhora de desempenho físico com o remédio
Maria Ferreira dos Santos
A tadalafila saiu do balcão da farmácia para o funk. Virou título de uma música do Piseiro do Barão e deu visibilidade para uma conversa comum em academias e em fóruns de conversa na internet entre praticantes da musculação, sejam amadores ou profissionais. Para esse grupo, a “tadala”, como é chamada, deixou de ser um medicamento para disfunção erétil e é usada como pré-treino para melhorar o desempenho nos exercícios.
De acordo com dados da Close-UP Internacional, empresa de conteúdo e serviços para a indústria farmacêutica, em 2023 foram comercializadas 43,1 milhões de unidades do medicamento, um crescimento de 38,9% em relação a 2022.
Mas o que os especialistas dizem sobre o uso da tadalafila antes de atividades físicas?
Como funciona a tadalafila
A tadalafila é um remédio para a disfunção erétil, quando há dificuldade em ter ou manter a ereção peniana. Junto com o citrato de sildenafil e a vardenafila, a tadalafila faz parte do grupo de medicamentos inibidores da fosfodiesterase tipo 5. Eles atuam no relaxamento do músculo liso dos vasos do pênis para aumentar o fluxo sanguíneo, facilitando a ereção.
Fernando Facio, chefe do Departamento de Andrologia, Reprodução e Sexualidade da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), salienta que esses medicamentos só funcionam quando há, também, o estímulo sexual. “Esta é uma característica clássica da medicação”, explica
Para comprar a medicação, não é necessária uma receita médica. Esse, inclusive, pode ser um dos motivos que colaboram para o aumento na procura do fármaco. Para Leonardo Seligra, médico urologista e andrologista titular da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), essa medicação deveria ser comercializada somente com prescrição, já que seu uso sem necessidade pode trazer riscos à saúde.
E a tadalafila na musculação?
Ambos os especialistas entrevistados concordam que não há relação do medicamento com um melhor desempenho nos exercícios físicos. Não há nenhum estudo que comprove essa hipótese.
Seligra acredita que a ideia das pessoas que utilizam a substância como pré-treino esteja baseada no efeito de vasodilatação que a tadalafila causa em todo o corpo. Esse efeito traz uma falsa sensação de aumento de volume dos músculos no pós-treino.
O remédio não tem efeito porque age em musculaturas diferentes, explica Facio. “O remédio atua na musculatura lisa, não na estriada, foco da atividade física”, diz.
Se a tadalafila não faz efeito como pré-treino, por que, então, algumas pessoas compartilham nas redes sociais que ela faz? Para Seligra, isso faz parte do chamado efeito placebo. Quando o indivíduo atribui a uma determinada ação – no caso, tomar tadalafila – uma melhora no resultado, quando, na verdade, o que induz melhores resultados é a crença de que a ação funciona.
Quais os riscos de tomar tadalafila?
Cada organismo é único e, por isso, algumas pessoas podem ter efeitos distintos e mais ou menos intensos do que outras. Estudos mostram que os principais efeitos colaterais da tadalafila no organismo são:
- Queda de pressão;
- Dor nas costas;
- Hipotensão postural;
- Tontura;
- Vermelhidão no rosto;
- Palpitação do coração;
- Perda do efeito (quando necessário em relações sexuais, o remédio pode deixar de fazer efeito).
A tadalafila não gera necessariamente uma dependência química, mas pode gerar uma dependência psicológica. Isso acontece quando a pessoa condiciona seu desempenho físico à medicação.
*Sob supervisão de Letícia Sorg