"São golpistas, não são vândalos", diz Moraes em correção a advogado de Filipe Martins sobre 8/1
Em oitiva de testemunhas, ministro do STF corrigiu referência de advogado a envolvidos nas depredações do 8 de janeiro
Paola Cuenca
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), interrompeu nesta quarta-feira (16) um questionamento feito pelo advogado Jeffrey Chiquini, responsável pela defesa do réu Filipe Martins, e corrigiu o termo utilizado para se referir aos envolvidos nos ataques às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023.
O episódio aconteceu durante a tomada de depoimentos das testemunhas de defesa. Chiquini fazia perguntas ao general da reserva Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), sobre o histórico de eventos ocorridos nas invasões aos prédios públicos.
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"'Quando os golpistas chegaram', doutor. São golpistas, não são 'vândalos'. Inclusive muitos deles foram condenados já", pontuou Moraes.
O ministro do Supremo Tribunal Federal e relator das ações do golpe ainda argumentou que havia imagens das depredações ocorridas na data. O advogado rebateu e fez questionamentos sobre imagens de câmeras de seguranças do dia 8 de janeiro que teriam sido apagadas. Moraes alertou Chiquini sobre a fala.
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"Doutor, o senhor está acusando alguém de ter desaparecido com imagens? É isso?", perguntou o ministro.
Após a negativa do advogado, Moraes seguiu o alerta afirmando que enviará ofício ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), por conta de insinuações feitas por Chiquini em audiência da última segunda (14), e questionou se o advogado gostaria de ter "mais alguma autoridade sob acusações".
Durante depoimento do delator e ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, Chiquini levantou dúvidas sobre a possível participação de Tarcísio, ex-ministro da Infraestrutura, em reunião realizada com a participação de Martins e do ex-presidente.
Na transmissão da audiência, que pôde ser acompanhada por jornalistas, ainda foi possível ouvir o advogado questionar por que se tentaria fugir de esclarecimentos sobre o episódio dos ataques golpistas e o áudio foi cortado. Segundos depois, Chiquini questionou se teve a palavra cassada. Moraes confirmou e pediu que o advogado Eduardo Kuntz, responsável pela defesa do réu Marcelo Costa Câmara, iniciasse os questionamentos a Gonçalves Dias.
Em publicação nas redes sociais, o advogado afirmou que irá "provocar" o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Beto Simonetti, para que se manifeste sobre o que ele considerou uma violação aos direitos da defesa. A cassação da palavra de um advogado por um magistrado é medida extrema utilizada em casos de desrespeito ao juízo, por exemplo.
Outros confrontos
Esta não é a primeira vez que o ministro tem desentendimento com o advogado de Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro na Presidência da República. Logo no início das audiências de oitivas de testemunhas, na segunda (14), Chiquini solicitou a Moraes que as oitivas fossem adiadas para se ter mais tempo de análise dos conteúdos coletados pela acusação no processo.
O ministro negou. O advogado tentou insistir no tema durante a fala de Moraes e recebeu uma bronca: "Enquanto eu falo, você fica quieto".
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No mesmo dia, em questionamentos a Cid, o advogado questionou se o ex-ajudante de ordens tinha conhecimento de que uma lista provisória, feita pelo próprio delator, de pessoas que viajariam com Bolsonaro aos Estados Unidos no dia 30 de dezembro de 2022 – e que continha o nome de Martins – seria o motivo pelo qual o ex-assessor permaneceu preso provisoriamente por seis meses.
O ministro interveio e impediu o questionamento: "Não foi a lista provisória que determinou a prisão dele. Fui eu que determinei".