IOF: Motta vira alvo de críticas internas no governo e recebe defesa de Gleisi e Lindbergh
Ministra e líder do PT tentam conter crise após avanço de proposta que revoga decreto e críticas à atuação do presidente da Câmara sobre condução de acordos
Rafael Porfírio
A Câmara dos Deputados deve confirmar nesta segunda-feira (16) a insatisfação de mais da metade dos deputados com a política econômica do governo Luis Inácio Lula da Silva (PT). Está previsto para entrar na pauta do Plenário, a votação do pedido de urgência para barrar o novo decreto que aumenta o IOF, o Imposto sobre Operações Financeira.
A proposta foi apresentada pelo líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS). Mas não ficou restrita à oposição, não. Partidos da base governista, como PP, Republicanos e União Brasil, também embarcaram na ideia.
A avaliação entre os deputados é que, se o governo for derrotado na votação da urgência, a tendência é de que a Medida Provisória (MP) também enfrente forte resistência nas próximas semanas. A proposta, que mexe com isenções em fundos exclusivos e aumenta a fiscalização sobre programas sociais, é vista por parte do Congresso como mais uma medida impopular.
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O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), bancou a votação depois de ouvir os líderes partidários e afirmar que "o clima na Casa não é favorável ao aumento de impostos."
Do lado do governo, a tentativa é de controlar os danos. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT-PR), disse nas redes que o decreto mostra "empenho do governo em dialogar e buscar equilíbrio fiscal."
Mas nos bastidores, o cenário é outro. A irritação dos deputados aumentou depois de um despacho do ministro do STF, Flávio Dino, pedindo explicações sobre um suposto "orçamento paralelo" de 8,5 bilhões de reais em emendas parlamentares. O gesto foi visto por parlamentares como uma interferência.
No meio desse fogo cruzado, Hugo Motta virou alvo. A avaliação de alguns integrantes do governo é que Motta não tem a mesma firmeza de seu antecessor, o deputado federal Arthur Lira (PP-AL). Enquanto Lira era visto como um operador duro, mas confiável, Motta recua diante da pressão dos colegas e, segundo fontes, não cumpre o que promete, por isso, o Planalto tem enfrentado mais dificuldades para consolidar maioria em votações estratégicas.
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Nas redes sociais, o líder do PT na Câmara, deputado federal Lindberg Farias, saiu em defesa de Motta e rebateu as críticas de integrantes do governo.
"Diante de críticas infundadas, é preciso reconhecer a atuação firme e institucional do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta. Sua condução do Plenário tem se pautado pela legalidade, pelo respeito à autonomia do Legislativo e pelo compromisso com a estabilidade democrática", destacou Lindberg. "Hugo Motta tem exercido sua função com equilíbrio, serenidade e diálogo - atributos fundamentais em um cenário de tensões políticas. Não cede a arroubos autoritários nem a pressões momentâneas. Sua liderança está ancorada na Constituição e na construção de consensos. Atacar o presidente da Câmara por não adotar posturas de confronto revela incompreensão sobre o papel republicano que cabe ao Parlamento e a quem o preside," finalizou.
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT-PR) também saiu em defesa de Motta nas redes sociais.
"O relacionamento do presidente Hugo Motta com o governo do presidente Lula tem se caracterizado por responsabilidade e firmeza nos encaminhamentos acordados em comum. No comando da Câmara, trouxe previsibilidade na pauta legislativa, sempre fruto do colégio de líderes, que expressa manifestações dos parlamentares. Tratamos às claras dos interesses do país e isso tem sido fundamental para a tramitação das propostas do governo no Legislativo."
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No sábado (14), Lula tentou estancar a crise e chamou Motta e Lira para uma conversa no Palácio da Alvorada. O presidente buscou entender os motivos pelos quais Hugo Motta classificou como "histórica" a reunião que teve com o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para discutir alternativas ao aumento do IOF, e, no dia seguinte, passou a criticar publicamente as propostas e cobrar cortes de gastos do governo.
Segundo fontes, Motta respondeu que considerou o encontro histórico pela disposição ao diálogo, mas que isso não significava apoio irrestrito ao conteúdo discutido. Afirmou que a crítica feita na segunda-feira, segundo ele, apenas refletiu o consenso construído pela maioria dos partidos, que representam mais de 300 deputados, para incluir a urgência na pauta.
No encontro, Motta reforçou que alertou, desde o início de sua gestão, sobre o esgotamento do clima no Congresso Nacional sobre as medidas. Além disso, sinalizou que dá pra negociar. A expectativa agora é que a liberação das emendas comece a destravar o diálogo com os líderes partidários e evite um desgaste ainda maior para o governo.