Deputado italiano pede extradição de Zambelli antes de sua chegada ao país
Parlamentar da esquerda italiana cobra ação do governo local para evitar que deputada brasileira use cidadania italiana para escapar da Justiça do Brasil

Ellen Travassos
O deputado italiano Angelo Bonelli, da Alleanza Verdi e Sinistra, encaminhou nesta quarta-feira (4) um pedido oficial aos ministérios das Relações Exteriores, Justiça e Interior da Itália para que o país não ofereça refúgio à deputada brasileira Carla Zambelli (PL-SP), condenada no Brasil e atualmente foragida.
Zambelli foi sentenciada no dia 14 de maio pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 10 anos de prisão por envolvimento na invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em parceria com o hacker Walter Delgatti Neto. A ação buscava inserir documentos falsos, incluindo um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes.
Além disso, durante as eleições de 2022, a deputada propagou desinformação sobre o sistema de urnas eletrônicas, o que motivou sanções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, mais recentemente, a cassação de seu mandato pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo. Ela também responde a processo por ter perseguido e apontado uma arma contra um opositor político nas ruas de São Paulo, em 2022.
Segundo Bonelli, Zambelli teria fugido do Brasil no final de maio e estaria atualmente nos Estados Unidos, de onde pretende seguir para a Itália. Em entrevista à CNN, a parlamentar afirmou ter cidadania italiana e declarou: "Podem me colocar na lista da Interpol, não conseguirão me tirar da Itália. Sou cidadã italiana e sou intocável lá, a menos que a Justiça italiana me prenda". Ela também justificou o desejo de ir à Itália pelo menor custo da assistência médica em relação aos Estados Unidos.
Diante das declarações da parlamentar, Bonelli cobrou que o governo italiano colabore com as autoridades brasileiras e com a Interpol para garantir uma eventual extradição da deputada, com base no tratado bilateral assinado entre Brasil e Itália em 1989.
O deputado também sugeriu uma mudança na legislação italiana para permitir a revogação da cidadania de pessoas condenadas por crimes como tentativa de golpe, crimes contra a humanidade ou incitação à subversão da ordem democrática. A resposta do governo italiano ainda não foi divulgada. A Itália é governada pela primeira-ministra Georgia Meloni, cujo posicionamento é tido como de extrema-direita.
“O caso de Carla Zambelli não pode ser tratado com condescendência. Não se pode permitir que a cidadania italiana seja usada como escudo para escapar da Justiça”, afirmou Bonelli.
Moraes aciona Interpol
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta quarta-feira (4) prisão preventiva da deputada Carla Zambelli (PL-SP). A decisão foi tomada após pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). Na terça (3), a parlamentar revelou que tinha saído do Brasil. Também afirmou que pretende se licenciar do mandato, ficar na Europa e fazer tratamento médico no exterior.
Relator do caso, Moraes ainda decretou bloqueio de contas bancárias, passaportes, veículos e perfis em redes sociais da parlamentar. Outra determinação é que a Polícia Federal (PF) "realize procedimentos necessários" para incluir nome de Zambelli na lista de difusão vermelha da Interpol. "Bem como informe ao juízo sua localização, para viabilizar o competente pedido de extradição", escreveu.