Moraes ameaça prender Aldo Rebelo por desacato em depoimento no Supremo
Clima ficou tenso durante audiência sobre a trama golpista e teve até áudio do microfone de Paulo Gonet vazado

Yumi Kuwano
Paola Cuenca
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes ameaçou prender, nesta sexta-feira (23), o ex-ministro Aldo Rebelo durante o depoimento da testemunha nas audiências que fazem parte da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
A testemunha, indicada pelo ex-comandante da Marinha Almir Garnier, foi questionada pelo advogado Demostenes Torres sobre o que significava Garnier dizer que se colocava "à disposição" do então presidente Jair Bolsonaro.
"É preciso levar em conta que na língua portuguesa existe aquilo que chamamos de 'força da expressão'. Força da expressão não pode ser tomada literalmente. Quando alguém diz que estou frito, não quer dizer que está em uma frigideira. Alguém diz que está apertado, não significa a pessoa está apertada literalmente. Então, quando alguém diz estou à disposição, isso não pode ser lido de forma literal", disse.
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Moraes interrompe a fala e pergunta: "O senhor estava na reunião em que se disse essa expressão?". Aldo responde que não. "Então, o senhor não tem condições de avaliar a língua portuguesa naquela ocasião", concluiu o ministro.
O advogado faz outra pergunta e Aldo insiste em argumentar com Alexandre de Moraes: "Em primeiro lugar, a minha apreciação da língua portuguesa é minha e não admito censura à minha fala". Moraes interrompe novamente e ameaça: "Se o senhor não se comportar será preso por desacato", diz.
Tropas da Marinha
Aldo Rebelo responde à pergunta se Garnier pode ou não pôr as tropas na rua sozinho.
"Não pode, ministro. Porque qualquer estrutura de comando, dentro das Forças Armadas, precisa consultar toda a cadeia relacionada com ela. O comandante da Marinha dirige uma mesa, quem comanda a tropa é o comando das operações navais, da esquadra, das forças de superfícies, de submarinos. Se não passar por essa cadeia de comando, se não passar por essa cadeia de transmissão, o comando fica apenas na palavra. O que eu gostaria de saber é se o inquérito apurou se dentro desta cadeia de comando foi", disse Aldo antes de ser interrompido.
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"Senhor ministro, quem faz as perguntas é o advogado e não a testemunha para o tribunal ou para o advogado. Não é o momento pra que isso aconteça", diz o procurador-Geral da República, Paulo Gonet.
Aldo nega que esteja fazendo perguntas. "Se o senhor quer saber, o senhor depois vai ler na imprensa", diz Moraes.
Em determinado momento, Paulo Gonet cometeu uma gafe. Após ter feito uma pergunta que começava com a frase "o senhor acredita", logo depois, sem perceber que o seu microfone ainda estava aberto, disse: "Fiz uma cagada agora".