Elo com Bolsonaro e irrelevância funcional levaram delegados a abandonar Ramagem na PF
Ex-chefe da Abin nunca exerceu tarefas relevantes na hierarquia da corporação policial e hoje está desfiliado da associação de classe
O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) até recebeu apoios políticos depois das operações da Polícia Federal envolvendo a própria gestão à frente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Dentro da PF, onde é delegado, Ramagem, porém, não viu um único gesto de solidariedade. Por dois motivos: a ligação oportunista com o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e a falta de um histórico funcional relevante na corporação.
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Por que isso importa: mesmo envolvidos em escândalos em maior ou menor escala, servidores públicos que mergulharam no mundo político quase sempre recebem o apoio das corporações que fazem parte. Os casos do ex-juiz Sérgio Moro e do ex-procurador Deltan Dallagnol são dois exemplos. Quando criticados, eles foram defendidos, respectivamente, pela Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).
Os bastidores: Ramagem por sua vez não ocupou cargos mais altos na hierarquia da PF, apesar de ter comandado investigações como a Metástase, que prendeu suspeitos de fraudar licitações públicas na Fundação Nacional da Saúde (Funasa). Em 2018, Ramagem chefiou a equipe de segurança do então candidato Bolsonaro. No início de 2019 foi nomeado assessor da Secretaria de Governo e seis meses depois foi para a Abin.
Desfiliação: a atuação no governo Bolsonaro o afastou da corporação. Ramagem hoje não está filiado à Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF). É o mesmo caso do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que acabou preso depois dos atos do dia 8 de Janeiro de 2023. A guerra aberta pela ADPF com o governo Bolsonaro por reajustes da categoria acabou levando Torres a se desfiliar da associação.