Ex-comandante da Aeronáutica reafirma que chefe do Exército deu ordem de prisão a Bolsonaro
Baptista Júnior relata que general Freire Gomes, de forma calma, avisou ao então presidente que, diante de medidas inconstitucionais, teria o dever de prendê-lo
Ellen Travassos
Rafaela Vivas
Paola Cuenca
O Supremo Tribunal Federal (STF) liberou nesta terça-feira (3) vídeos dos depoimentos de testemunhas no julgamento sobre a tentativa de golpe de Estado no início do mandato de Lula.
No vídeo, Carlos de Almeida Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica, reafirmou em depoimento que o então comandante do Exército, general Freire Gomes, alertou o presidente Jair Bolsonaro de que teria que prendê-lo, caso fosse adiante com medidas inconstitucionais após as eleições de 2022.
Segundo Baptista Júnior, a fala do general Freire foi feita sem confrontos ou agressividade, mas com firmeza.
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“Freire Gomes é uma pessoa polida, educada. Logicamente, ele não falou essa palavra com agressividade com o presidente da República, ele não faria isso. Mas é isso que ele falou. Com muita tranquilidade, com muita calma, mas colocou exatamente isso: ‘Se o senhor tiver que fazer isso, eu vou ter o trabalho de te prender’”, afirmou o ex-comandante da Aeronáutica.
O episódio teria ocorrido durante discussões internas entre os chefes militares e Bolsonaro, após o resultado das eleições presidenciais de 2022, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva. Embora Bolsonaro não tenha declarado abertamente intenção de dar um golpe de Estado, os diálogos entre os militares indicavam preocupação com eventuais medidas de exceção que poderiam ser tomadas para impedir a posse do presidente eleito.
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Freire Gomes havia negado a declaração também em oitiva, no STF, dia 19 de maio, mas Baptista, no dia 21, voltou a dizer que a conversa aconteceu em reunião realizada no Palácio do Planalto.
Durante o depoimento, o ministro do STF, Luiz Fux, mencionou especificamente a possibilidade de Freire Gomes ter dado uma ordem de prisão caso houvesse uma tentativa de ruptura institucional. Baptista Júnior respondeu dizendo que não houve uma fala explícita de Bolsonaro sobre golpe, mas que a hipótese de um estado de exceção foi discutida.
“Em momento algum o presidente Jair Bolsonaro colocou dessa forma que estava objetivando um golpe de Estado, obviamente que ele não faria. Mas durante as discussões, como eu disse ao senhor, a partir do dia 11, dia 14, nós começamos a imaginar que os objetivos políticos de uma medida de exceção não eram para garantir a paz social até o dia 1º de janeiro”, relatou o brigadeiro.
Foi nesse contexto, segundo Baptista Júnior, que Freire Gomes se posicionou com clareza.
“Não foi em resposta a uma colocação que o presidente daria um golpe, mas foi no âmbito desta discussão, de possíveis Estados de exceção, que o general Freire Gomes colocou [a advertência]”, afirmou.